Estação Gávea – Enterrando dinheiro público

Este site urbano-carioca vem reproduzindo a ótima série sobre a história do Metrô elaborada e publicada pela página “Metrô que o Rio Precisa”, que iniciou-se com a Pré História do Metrô do Rio e o Início das obras e inauguração do Metrô.

Curiosamente, o governador do Estado do Rio de Janeiro anunciou, nesta quinta-feira, dia 5, que o buraco cavado para a construção da Estação Gávea será aterrado, conforme notícia veiculada no Jornal “O Globo“, já com grande repercussão.

Infelizmente, caso a estranha decisão se concretize, não será a primeira vez que uma estação de Metrô tenha sido planejada, as obras iniciadas e, em seguida, abandonadas. A Estação Cantagalo resumiu-se a um buraco durante anos, enquanto governadores se digladiavam sobre de quem seria a responsabilidade a respeito: esta, ao menos, foi concluída.

O buraco da Estação Cruz Vermelha teve pior sorte, tanto quanto os cariocas que a usufruiriam: aterrado, sumiu junto com a conclusão da Linha 2 e com a segunda plataforma da Estação Carioca, não aterrada, porém hoje apenas um fantasma. Com o anúncio do novo governador, o velho desmando se repete. Dinheiro público não valorizado, pior, rasgado e enterrado vivo.

Vale lembrar que a Estação Gávea faz parte da Linha 4 no Metrô que ligaria Centro e Botafogo à Barra da Tijuca, atravessando os bairros do Humaitá e Jardim Botânico, onde haveria estações intermediárias. Entretanto, mais uma falácia em nome dos Jogos Olímpicos, o trajeto foi substituído pelo prolongamento da Linha 1, rebatizado de Linha 4, ao que consta em diversas reportagens, para “aproveitar” uma licitação antiga realizada para o traçado original. Questionamentos durante o processo foram ignorados, a obra foi feita, e surgiram suspeitas de superfaturamento fartamente noticiadas.

Perdemos todos. O cidadão que vê o dinheiro dos impostos desperdiçado, a população que sofre no transporte público insuficiente.

Um aspecto não passa despercebido: a Estação Gávea não era necessária “Pra Olimpíada”. O esforço feito para que o caríssimo tatuzão abrisse caminho pelos bairros de Ipanema e Leblon em direção à Gávea – obra mais cara e complexa do que o trecho Botafogo-Gávea – considerou o período Olímpico. Algum problema houvesse e a parada na Gávea poderia ser descartada, sem impedir a desejada ligação do Metrô com a Barra da Tijuca, atingindo o outro modal “Pra Olimpíada”: o BRT.

Assim chegamos à situação atual, o sonho de um Metrô em rede tornado cada vez mais distante.

Urbe CaRioca

Witzel vai aterrar a estação de metrô da Gávea

Governador diz que, para concluir a obra, seria necessário R$ 1 bilhão. ‘O estado tem outras prioridades’
O Globo – 05 de setembro de 2019

Vista aérea da obra da estação da Gávea do Metrô Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

RIO — O governador Wilson Witzel vai aterrar o buraco onde ficaria a estação de metrô da Gávea na Linha 4, cujas obras estão paradas desde 2015 e oferecem risco aos prédios próximos, revelou o jornalista Ancelmo Gois . O local foi inundado com 36 milhões de litros d’água. Um relatório do Tribunal de Contas do Estado concluiu que, só para estabilizar a estrutura e evitar perigo no entorno, o Estado teria de fazer novos investimentos da ordem de R$ 300 milhões, segundo Witzel. Em razão do alto custo, o governador decidiu aterrar a área da estação:

— Para concluir a obra, seria necessário R$ 1 bilhão. O Estado do Rio tem outras prioridades para uma montanha de dinheiro desse tamanho.

O governador disse que deve priorizar intervenções na Rocinha:

— Infelizmente, nós não temos este dinheiro. O dinheiro que estamos recebendo não pode ser destinado para fazer a obra de extensão de metrô da Gávea, enquanto na Rocinha estamos com aquele deslizamento de terra, com esgotamento sanitário a céu aberto, com a população mais pobre sofrendo. Agora é hora de olharmos para os pobres, de olharmos para as pessoas mais carentes, para que possamos fazer as obras nas comunidades. A Rocinha é o primeiro modelo da “Comunidade Cidade” que vai ser lançado este mês, no dia 23. Mas iremos construir outros.

Witzel destacou não descartou a possibilidade de retomada da obra no futuro:

— Vamos cuidar o esgoto, fazer a fiação, dar o número da casa das pessoas, fazer a coleta de lixo chegar. Vamos dar dignidade àquelas pessoas. Não dá pra fazer tudo. Então vamos aterrar, porque isto vai custar entre R$ 20 milhões a R$ 30 milhões, e no futuro, quem sabe, se tiver dinheiro, a gente faz a estação.

Associação de moradores critica

O presidente da Associação de Moradores e Amigos da Gávea (Amagávea), Rene Hasenclever, afirmou que a decisão de Witzel é “patética” e defendeu a conclusão das obras:

— É uma decisão patética. Ele só pode estar surtando. O que a gente precisa é terminar a estação do metrô. O Rio tem cultura do automóvel, não tem mais espaço para andar, não tem mais vias. Os moradores estão revoltados. Estamos tentando agendar uma reunião com o governador, vamos tentar agendar uma reunião com ele hoje ainda. Tem que concluir (a estação). Ele se vira, arruma dinheiro. Vá pegar dinheiro na Firjan, na Fecomércio, que a iniciativa privada dê dinheiro se o estado não tem. Tem que fazer o metrô. Esta cidade vai explodir. Ano que vem haverá evento de arquitetura, essas pessoas vão ficar na rua três horas para chegar a algum local. Hoje temos 35 mil táxis e 100 mil carros de aplicativo circulando pelo Rio de Janeiro. É um caos total. Com a Niemeyer fechada a Zona Sul para. Imagina se fechar o Rebouças amanhã. O cara é louco, simplesmente louco — criticou Hasenclever.

Em nota, a Secretaria de Estado de Transportes afirmou que a decisão de aterrar a estação se deu em função das dificuldades financeiras enfrentadas pelo governo do estado. De acordo com o órgão, a medida anunciada custará menos do que a conclusão das obras ( veja nota completa no fim do texto ). 

Projetada para receber diariamente 19 mil passageiros, a estação de metrô da Gávea — prevista como a mais funda do sistema, a 55 metros abaixo do nível da terra — foi transformada em um grande reservatório de água em janeiro de 2018. Foram usados 36 milhões de litros de água, volume suficiente para encher 13 piscinas olímpicas, em uma operação que teve como objetivo afastar a possibilidade de danos estruturais em prédios do entorno, inclusive o da PUC-Rio. Das seis estações previstas no projeto da Linha 4, que começou a ser implantado em 2010, a da Gávea é a única inacabada. A estação deveria ter ficado pronta para os Jogos Olímpicos do Rio. Depois, com atraso no cronograma, o estado chegou a divulgar que o terminal seria inaugurado em dezembro de 2016, mas a construção — marcada por suspeita de superfaturamento — foi interrompida em 2015.

TCE pediu plano de emergência

Em agosto, o TCE determinara que o governo estadual apresentasse um plano de emergência para que as obras da Linha 4 do metrô fossem retomadas. A estação Gávea, com as obras paradas, oferece riscos estruturais a prédios da região. Ao apresentar seu voto, o conselheiro Rodrigo Nascimento, relator do processo, afirmou que a longa paralisação coloca “vidas em risco”. Ele criticou o Ministério Público de Contas, órgão que pertence ao TCE, que havia determinado que concessionária Rio Barra arcasse unicamente com a despesa.

Por unanimidade, os conselheiros acompanharam o voto de Nascimento, que considerou “inconclusivas” as respostas enviadas pelo governo em junho, quando o tribunal solicitou um pedido de esclarecimento. A corte estipulou multa diária de R$ 3.500 para o secretário de Transportes, Delmo Manoel Pinho, caso o plano de emergência não seja apresentado no prazo estabelecido de dez dias.
Segundo Nascimento, a paralisação total da empreitada pode afetar “a solidez da obra e a segurança da população”.— Estamos falando de vidas. Vidas que podem ser perdidas caso ocorra o pior. Há o risco de estruturas ruírem e colocarem em perigo vidas e estruturas de predios lindeiros — disse Nascimento em agosto, citando um relatório produzido pela Rio Trilhos.Relatório diz que obras levariam um ano.
O relatório da Riotrilhos que foi apresentado ao TCE revelou que as obras necessárias à estação da Gávea vão levar, no mínimo, um ano . A intervenção no canteiro é obrigatória. O estado terá de fazer os ajustes por conta do perigo para o entorno.A Riotrilhos alerta que o canteiro terá que ser totalmente esvaziado, gradativamente, numa operação cuidadosa, e não poderá mais ser alagado.
Segundo a Riotrilhos, que não estimou os custos, há duas alternativas viáveis. Para seguir com a obra, é preciso terminar as escavações em mais 15 metros de rocha e concretar toda a estação. Se não for dar continuidade, a saída é escorar as estruturas existentes e cobrir de terra o buraco até que, um dia, as obras sejam retomadas.A previsão é que o serviço será lento. Só para retirar a água do local serão necessários três meses de trabalho. O prazo total das intervenções poderia chegar a dois anos. Os riscos se concentram na chamada alça oeste, onde está a futura estação. Não foram identificados problemas maiores na alça sul, onde as obras pararam quando ainda faltavam escavar 1.256 metros de túneis.
Witzel prometera solução para estação
No início do ano, o governador prometeu, em seu plano de metas, que um grupo de trabalho apresentaria uma solução para a estação Gávea em cem dias. O prazo venceu em 10 de abril. Já o Ministério Público do Rio, que conseguiu decisão judicial que impede novos investimentos públicos na obra por causa das denúncias de superfaturamento disse que vai analisar a nota técnica da Rio Trilhos. Além disso, o Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (GAECC/MPRJ) solicitou ao Grupo de Apoio Técnico Especializado (GATE/MPRJ) análise in loco.Em meio à indefinição, a situação preocupa moradores e a PUC. A universidade fez estudos por conta própria atestando os perigos da paralisação da obra.
 

Confira a nota completa da Secretaria de Estado de Transportes:

A Secretaria de Estado de Transportes esclarece que o Governo do Estado decidiu reaterrar a cava de fundação das obras da Estação Gávea do metrô, que deverá custar de R$ 20 a R$ 40 milhões.
Vale ressaltar que seriam necessários de R$ 750 milhões a R$ 1 bilhão para concluir a referida obra ou R$ 300 milhões para concretar e estabilizar a estrutura. Essa decisão considerou as dificuldades financeiras encontradas pela Administração Pública, que inviabilizam o alcance de um desfecho favorável para a sua finalização.
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