Centro Histórico da Cidade do México: exemplo para o Rio?

O lindo Centro Histórico da Cidade do México (fotos) não é, de verdade, o seu centro histórico original. Ele foi construído em cima do Templo Mayor, área principal da capital asteca de Tenochtitlán.

Na Plaza de Armas estão os símbolos do poder espanhol: a Catedral, o Palácio do Governo com o mural de Rivera, e outros edifícios públicos. Em volta, enormes prédios que caracterizam o centro histórico do conquistador.

Hoje, após várias décadas, há um esforço enorme para revelar as ruínas arqueológicas de Tenochtitlan. Elas estão enterradas, por baixo dos prédios espanhóis. Por isso o incrível esforço de, sem destruir os monumentos espanhóis, tentar recuperar a riqueza que foi enterrada por uma política de ocupação colonial.

Enterrar os símbolos e o monumentos da sociedade que se queria conquistar, para nela impor o modelo cultural do conquistador, era a ideologia da época.  Por isso, olhamos para elas com tolerância histórica. Porém, esta nos serve sobretudo para vermos que as mesmas práticas não devem ser repetidas.

Em que medida podemos estar fazendo isso na Cidade do Rio, especialmente na área do projeto Porto Maravilha?

Algumas pistas

Em 2012, foi revelado, nas obras que lá eram executadas, o Cais da Imperatriz que, na verdade, era um outro monumento – o Cais do Valongo. E este representa, de forma monumental, o fatídico tráfico de escravos para o Brasil nos séculos XVIII e XIX.

O Cais do Valongo não era um local isolado, pois um largo centro histórico o circundava. Lá era a pequena África, local onde toda uma população negra vivia, com suas tradições, sua cultura e seus símbolos.

Ainda há, na área, marcas que revelam este centro histórico-cultural do Rio: seus trapiches, os marcos de suas residências, os objetos das práticas culturais que restam enterrados.

Mas a área portuária, em sua grande extensão, está sendo objeto de uma “renovação” urbana, prevista na lei que aprovou a Operação Urbana Consorciada do Porto do Rio.

Nesta lei, em seu art. 2,  dentre seus princípios está:,

§ 1.° Os seguintes princípios nortearão o planejamento, a execução e a fiscalização da Operação
Urbana Consorciada: (…)

II – a valorização da paisagem urbana, do ambiente urbano e do patrimônio cultural material e imaterial;”

Quando foi feita a mencionada lei do Porto, o Cais do Valongo não havia sido revelado. Hoje, este monumento está sendo cogitado como candidato à lista da UNESCO de Patrimônio Mundial. Mas o que acontecerá com o seu entorno? Com a pequena África que o cerca?

Será que os mega prédios previstos para a Região Portuária, como as prometidas Trump Towers e outras, serão as novas catedrais que, como nas colônias espanholas, enterraram, sem necessidade, a cultura local?

O futuro dirá se estes representantes desta neo-conquista, que não se intimidam de ofuscar a história local, poderão, ou não merecer um novo perdão histórico.

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