Tijuca – Elzi Levi: memória vida da Praça Saens Peña

Setembro é considerado um mês de referência e muita comemoração para os que vivem nas imediações da Praça Saens Peña. Afinal, a chegada da primavera vem acompanhada pela alegria da confraternização dos amigos da primeira artesã da praça, a florista Elzi.

No último dia 22 de setembro, Elzi comemorou os 44 anos de seu quiosque e os 97 anos de sua mãe, Maria Reis, carinhosamente conhecida como Dona Moreninha.

Ao longo desse tempo de muito trabalho, alegrias e lutas compartilhadas com os tijucanos, a artesã não somente criou e formou seus filhos, mas também presenciou as inúmeras transformações do bairro em quase meio século de história.

Aos 13 anos, Elzi trabalhou no famoso ateliê de franceses, o Vita Fleur, onde desenvolveu sua arte de florista de forma profissional. As primeiras noções sobre flores artesanais, feitas em papel crepom, lhe foram dadas por Dona Moreninha que, até hoje, se mantém em plena atividade.

Após ter se formado no colégio, Elzi passou a trabalhar num banco, durante a semana, e aos sábados e domingos, como complemento de sua renda, vendia flores. Mas, a conselho de seu noivo, decidiu dedicar-se integralmente à confecção e à venda de flores.

No início, fixou-se num ponto menos frequentado da praça. Começou seu comércio com uma cesta no chão, depois um tabuleiro no chão, para, enfim, ter um quiosque: sua arte fez com que, pouco a pouco, se tornasse conhecida e, com ela, também ficou conhecido o ponto que ocupava e ocupa até hoje.

Embora muitas senhoras do bairro considerassem seus produtos como de “camelô”, Elzi sempre teve consciência de ser uma artesã e se orgulha de ser “a primeira artesã documentada da Praça Saens Peña”.

A qualidade de seu trabalho ultrapassou os limites do bairro, e Elzi ganhou clientes da alta sociedade. O movimento de compras e encomendas crescia tanto, que, ao chegar de manhã bem cedo em seu quiosque, já encontrava clientes à sua espera: “figuras importantes”, como os familiares dos ex-presidentes JK, Getúlio Vargas, Tancredo Neves, do ex-ministro Walter Pires e o carnavalesco Max Nunes. Além disso, as criações do famoso quiosque tijucano já fizeram sucesso em novelas da TV Globo.

Testemunhando as transformações

Durante todo esse tempo, Elzi não só criou seus três filhos como também fez grandes amizades na Tijuca e testemunhou as transformações do bairro: “A praça era muito frequentada por namorados, pois tínhamos muitos cinemas. Existiam as tradicionais figuras do lambe-lambe (fotógrafo) e do pipoqueiro, que davam aquele ar bucólico à região. Em vez dos atuais shoppings, existiam as lojinhas e as boutiques que estavam sempre cheias. (…). Nessa época, tínhamos a consciência de que as pessoas que transitavam na praça eram basicamente moradores ou comerciantes”.

Débora Mello, filha de Elzi, vê na construção do metrô o aspecto positivo de a Tijuca a ser frequentada por moradores de vários pontos da cidade.

Contudo, para Elzi algumas coisas poderiam ter sido diferentes: “Acredito que poderíamos ter preservado um pouco daquele glamour que a praça tinha, conciliando o progresso e a preservação das nossas referências”.

Publicado na revista Rota Tijucana, outubro/2011

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