A Transcarioca e suas consequências
Nosso leitor, Wellington Souza de Andrade, nos enviou suas impressões sobre as consequências da construção da Transcarioca na vida das pessoas que moram nas regiões por onde ela passa.
Abaixo segue o seu relato.
“Caminhando pela Rua Domingos Lopes, no Campinho, percebe-se que as histórias e as conquistas de muitas famílias têm sido reduzidas a simples poeira. Em nome da Transcarioca, vizinhos de longa data tiveram alijada sua saudável convivência.
Um bom exemplo disso era a antiga vila que existia no nº 335. Nela havia dez casas, bem próximas, cortadas por um simples e simpático jardim, das quais apenas cinco foram expropriadas e já demolidas”, afirma.
Observando as características daquela vila percebe-se o violento atentado à dignidade dos moradores que não tiveram seus imóveis desapropriados. O antigo portão de ferro, que assegurava a privacidade e a segurança dos moradores, foi substituído por um frágil tapume, cuja fechadura é uma singela corrente.
Também havia um sistema de interfone para a chamada dos moradores; hoje as visitas têm que fazer isso no grito, competindo com o barulho produzido pelas pesadas máquinas utilizadas nas obras.
Em breve será necessária a remoção dos postes que sustentam os cabos elétricos e de telefonia, contudo, até o momento nada foi feito para evitar a suspensão destes essenciais serviços. E como ficará o abastecimento de água? E o sistema de esgoto?
Parece que nada disso foi levado em consideração no planejamento da obra. Pensou-se apenas no traçado da nova via e ignorou-se o bem-estar dos moradores que foram compelidos a morar no meio de um precaríssimo canteiro de obras.
Por que as outras cinco casas da vila 335 não foram desapropriadas? Por medida de economia? Tudo indica que a dignidade da pessoa humana, que é um dos preceitos de nossa República, foi solenemente ignorada.
Não se questiona, aqui, a importância nem a necessidade da obra, mas, sim, a forma como ela está sendo executada, ou seja, com total desrespeito aos moradores que lá permaneceram.
Considerando, portanto, que as obras ainda estão na sua fase inicial e que muitos cidadãos estão vivendo em situação absolutamente indigna, seria oportuno reavaliar a conveniência de novas desapropriações, sobretudo nas localidades em que a declaração de utilidade pública foi apenas parcial, como no caso da vila 335 da Rua Domingos Lopes.
O respeito aos cidadãos não pode ser expropriado, nem tampouco demolido.
Os moradores da região gostariam de contar com seu apoio no sentido de tornar público todos esses problemas, exigindo, por conseguinte, providências imediatas para amenizar os problemas diários que têm sido enfrentados.”