Um atum meu, seu, nosso!
A foto acima foi publicada hoje, no Terra Magazine, com os seguintes dizeres:
“Japão – 4h10 – Funcionários do mercado atacadista Tsukiji, em Tóquio, carregam um atum-rabilho vendido por um preço recorde no primeiro leilão do ano. O peixe, de 342 kg, foi vendido por 32,49 milhões de ienes (US$ 396,7 mil) nesta quarta-feira. É o maior valor desde 1999, quando os dados começaram a ser divulgados”
O peixão, criado nos mares comuns das nações, sobrevivente da poluição e da caça predatória, é simplesmente apropriado pelos pescadores de todas as nações, neste caso, os japoneses.
Se por um lado os pescadores fazem investimentos nos barcos, nas redes, nos arpões, por outro, eles não fazem nenhum investimento no cultivo desses peixes, na sua criação, nem na conservação de seus habitats. Então, por que razão se apropriam deste ser vivo, e se tornam donos da mercadoria, equivalente a quase R$ 700 mil ? Qual o sistema que os legitima?
É o antigo sistema jurídico internacional que em outros tempos legitimou o direito de conquista nas Américas, na África, na Ásia – o direito de apropriação pela conquista, sem a responsabilidade do investimento no cultivo ou na reposição. Este é um sistema jurídico, infelizmente ainda vigente, que ocasionou a extinção de algumas espécies florísticas e da fauna, hoje um pouco amenizado por alguns tratados internacionais. Mas em nenhum tratado há qualquer previsão de cobrança de “royalties” pela simples apropriação de algo que, por não ser privado, é público – e, portanto, de todos.
Aquele atum, portanto, era meu, teu, nosso. Alguém foi lá, no mar comum, e o fisgou, apropriando-se da nossa riqueza, sem nos pagar um tostão.
É justo? É equânime? Se não é, então a luta é por mudar o conceito legal de formas de apropriação, lucro e propriedade, para outras tipologias mais solidárias, e menos expoliatórias do patrimônio comum.
O primeiro passo é a consciência; o segundo é a divulgação da ideia e a formação da corrente dos que querem a mudança!
No jornal O Globo do dia 06.01.2010 há afirmações sobre este animal em vias de extinção. Confira
“Atum ameaçado de extinção é vendido em leilão japonês
Peixe de 342 quilos foi comprado por dois restaurantes, que pagaram US$ 400 mil, um recorde no mercado
Claudia Sarmento – Correspondente
● TÓQUIO. O primeiro leilão do ano no maior mercado de peixes do mundo começou com festa entre os japoneses: um atum azul foi vendido ontem por 32,4 milhões de ienes (cerca de US$ 400 mil), o recorde da história do mercado Tsukiji, em Tóquio.
O peixe de 342 quilos, pescado na costa de Hokkaido, foi comprado em dupla por um restaurante de Hong Kong e outro da capital japonesa. Considerado a
melhor espécie para fazer sushis e sashimis, o atum azul figura na lista do WWF como um dos dez animais mais ameaçados de extinção, mas o Japão é um dos principais opositores das negociações para proibição ou redução das cotas de pesca.
Os japoneses consomem 80% do atum pescado no mundo e o martelo batido ontem no Tsukiji é prova de que a popularidade dos pratos à base do peixe cru continua se espalhando, ajudando a sustentar um mercado milionário.
O recorde — que equivale a US$ 1.157 por quilo — veio de um peixe gigante, mas surpreendeu os próprios comerciantes do mercado, um local considerado parte sagrada da cultura japonesa, onde a movimentação diária em nada reflete a pressão que o Japão vem sofrendo para debater a pesca predatória.
— Queríamos muito arrebatar esse peixe no primeiro leilão do ano, como símbolo de sorte — disse Ricky Cheng, proprietário da rede Itamae Sushi, de Hong Kong, que fez a oferta em parceria com o sushi bar Kyubey, casa conhecida em Tóquio por atrair empresários e figurar entre os restaurantes indicados pelo prestigiado Guia Michelin.
— Um bom atum é muito apreciado na China — confirmou ele.
No primeiro leilão de 2010, a mesma dupla conseguira comprar o maior atum do mercado, o que levou Cheng a ser alvo de uma campanha dos ecologistas em Hong Kong. O Tsukiji realiza leilões diários — bastante concorridos entre os turistas, que acordam de madrugada para tentar conseguir uma senha de acesso ao local das negociações e depois enfrentam longas filas para comer sushi fresco no café da manhã, em pequenos bares espalhados pela área. Mas o primeiro leilão do ano é sempre o mais simbólico para os comerciantes e também o que atinge os preços mais altos.
O recorde anterior, de 2001, era de um peixe de 202 quilos, vendido por 20 milhões de ienes (US$ 244 mil). Ano passado, a Comissão Internacional para Conservação do Atum do Atlântico aprovou a redução das cotas anuais de pesca no Mediterrâneo e no Leste do Atlântico de 13.500 para 12.900 toneladas, mas a medida foi considerada insuficiente.