Aterraram a Baía! Um aterro salvo pelo Parque
A foto mostra o aterramento da Baía da Guanabara, nos anos 50. Se fosse hoje, seria um crime ambiental, óbvio. Lota salvou a cidade desta vergonha ambiental, e fez do Aterro (como alguns ainda insistem em chamar a área) em um Parque: o Parque do Flamengo.
Vê-se, com clareza, o tamanho do que foi tomado das águas, para fazer pistas de rolamento. Isto porque a primeira proposta da obra era tão somente a construção de 8 pistas rodoviárias, para viabilizar a ida da zona sul da cidade do Rio para o centro.
Felizmente, o sonho visionário de Lota de Macedo Soares determinou que esta pedisse ao amigo, o então Governador Carlos Lacerda que lhe “desse” o trabalho, gratuito, de transformar aquela aridez em um excepcional Parque urbano – o Parque do Flamengo.
O projeto do Parque do Flamengo foi desenvolvido por uma equipe de profissionais excepcionais, capitaneada, no projeto urbanístico, por Affonso Reidy, e no projeto paisagístico por Burle Max.
Quando se luta para se conservar o projeto original do Parque tombado, se está lutando para escapar do obscurantismo de transformar áreas verdes em áreas construídas, como está sendo executado na área do Parque denominada Marina da Glória, por um projeto privado da BR Marinas, aprovado pela Prefeitura do Rio e pela presidência do IPHAN.
MUITO BOM , BELAS LEMBRANÇAS DO MEU RIO ANTIGO!
Como uma das testemunhas do lançamento das primeiras pedras despejadas por caminhões basculante na construção do enrocamento que delimitou a área a ser aterrada com o material removido do Morro Santo Antônio e que se transformaria no Aterro do Flamengo, tenho algumas impressões do passado que vou repartir com você e seus leitores:
1) Que a construção do Aterro tenha tido três finalidades principais e não uma só:
A primeira era realmente a construção de uma via expressa ligando a Zona Sul ao Centro da Cidade.
Parte dessa via, no Aterro na Praia de Botafogo, receberia por um viaduto no final da rua Pinheiro Machado o tráfego proveniente do túnel Santa Barbara.
A segunda, de igual importância, era onde colocar o “bota-fora” (a terra e pedras) da remoção do Morro de Santo Antônio, revolucionando não só a topografia da área no entorno do Largo da Carioca, mas também o urbanismo do centro da cidade.
Um grave erro cometido na urbanização e projeto das pistas no Aterro, foi considerar prioritário o trânsito de veículos e não dos pedestres. Automóveis é que deveriam subir e descer rampas e os pedestres ao transitarem entre a pista que tem os prédios da Praia do Flamengo e o mar, caminhariam no plano horizontal ao invés de subir e descer passarelas.
Ao se dragar o mar em frente ao Aterro e criar nova Praia do Flamengo com o material tirado do fundo do mar, foi criada uma praia com extensão e largura muito maiores do que a anterior Praia do Flamengo e se previa desde os estudos preliminares que a área teria uma frequência muito maior do que a praia antiga.
Os urbanistas de carreira do Governo Lacerda, adotaram para o Rio de Janeiro uma estratégia já prevista no Plano Agache, no qual o arquiteto Affonso Reidy trabalhou quando jovem estagiário, que dotava o Rio de Janeiro de calçadas largas e desimpedidas, favorecendo os pedestres, ao contrário de todos os governadores e prefeitos posteriores, que passo a passo expulsaram os pedestres das calçadas com avanços nos recuos e ocupação gradativa das calçadas com atividades comerciais.
Esses mesmos urbanistas jamais pensariam que algum prefeito tivesse a ousadia de expulsar os pedestres também de parte do Aterro do Flamengo, que é o que está acontecendo agora na Marina da Glória.
E tem mais: Se o comprador do Hotel Glória não tivesse falido, ainda teríamos um viaduto ligando o Hotel à Marina e certamente a “privatização” de áreas adicionais.
A terceira finalidade do Aterro, desconhecida pela maioria dos cariocas, foi a de permitir a passagem de uma canalização de grande porte, denominada “Interceptor Oceânico”, que conduziria os Esgotos Sanitários das Zonas Norte e Central da cidade ao Emissário Submarino de Ipanema que os lançaria depois das Ilhas Cagarras.
Esse Interceptor, coletaria também as primeiras chuvas, que lavam áreas de favelas sem redes de esgotamento sanitário e que são conduzidas às Redes de Drenagem Pluvial que deságuam no mar.
O temor que a Lota tinha de que logradouros públicos da coletividade fossem surrupiados para atividades sem sempre compatíveis com interesse coletivo e público, se confirmou no futuro e não só em relação ao Aterro do Flamengo.
A privatização da Marina da Glória e arredores, a usurpação de calçadas por edifícios, bares, imensas bancas de jornais, avanços de todas as naturezas sobre os recuos determinados pelos Projetos de Alinhamento do Urbanismo da cidade, o fechamento de ruas com cancelas e guaritas, demonstram que leis não bastam para deter a ganância e desonestidade agindo contra o interesse público.
Para isso é necessária a existência de promotores públicos e juízes com coragem e determinação para enfrentar atos ilegais do poder constituído, como está sendo feito na Operação Lava-Jato.
Se isso acontecer um dia aqui, daremos um passeio juntos do Mourisco ao Aeroporto Santos Dumont, sem interrupções.