De Lacerda.edu para EduardoPaes.gov
O jornalista Elio Gaspari prossegue em sua defesa pela integridade do projeto original do Parque do Flamengo e pede a atenção do IPHAN.
” Senhor prefeito do Rio de Janeiro,
Escrevo-lhe com autoridade: fui eu quem fiz o Aterro do Flamengo. Se não fosse a maluca da Lota Macedo Soares, miúdo vulcão de amor à cidade, aquilo seria um carrascal, parecido com as avenidas marginais dos rios de São Paulo. Foi ela quem concebeu a maravilha e eu quem pedi ao Instituto do Patrimônio Histórico, em 1964, que tombasse o parque. Tombado, não pode ter edificações adicionais que comprometam o seu espírito de área pública.
Aquela terra é do povo carioca. No governo do general Figueiredo, numa das tenebrosas transações da ditadura que ajudei a criar, ele transferiu a posse da área da Marina para a prefeitura do Rio e esta, concedeu-a a um grupo privado. Em bom português: surrupiaram um pedaço do parque. (De vez em quando vejo o Figueiredo por aqui. A Lota já tentou bater nele, mas o sujeito só conversa com cavalos.)
A `extrema leviandade´ dos poderes públicos transformou a área da Marina num mafuá e agora o filho do Eliezer Batista, a respeito de quem nada digo, porque não se pode contar aí o que se ouve por cá, anuncia que pretende revitalizá-la.
Quer construir um shopping center (50 lojas), um estacionamento (600 vagas) e um centro de convenções com capacidade para 900 pessoas anexos ao Hotel Glória, que é dele. Sei da extensão dos poderes do moço e lastimo que o senhor esteja fora dessa discussão. (Sei também que circula com assessores que carregam numa sacola o projeto do doutor, defendendo-o.)
O Iphan de Brasília teria dado um sinal verde preliminar ao projeto. A Lota, com sua fúria habitual, não entende como a presidente do Instituto, Jurema Machado, deixou a bola passar, pois numa reunião, há anos, lembrou que as obras, mesmo abaixo do nível do chão, poderiam impactar a intensidade do uso do parque.
Há mais de vinte anos, conselheiros do Iphan usam a palavra “privatização” para condenar a velhacaria. Eu não gosto disso, porque tenho horror ao PT. O que não não devemos aceitar é que se tome ao povo um espaço que é dele, transformando-o num empreendimento comercial.
O senhor sabe que o Rio precisa de centros de convenções. Sabe também que há um espaço reservado ao lado da estação da Leopoldina exatamente para isso. Sabe mais: que iniciativas desse tipo estimulam a revitalização de áreas degradadas, como fez Nova York com o Javits Center. O Aterro não está degradado, degradados estão os interesses que degradam-no.
O filho do Eliezer diz que fez um concurso internacional de arquitetura para escolher o projeto. O senhor acredita? Se o Iphan não defende o patrimônio da cidade, o senhor deve protegê-la. Basta zerar o velho cambalacho. Se o moço quer fazer uma marina, pode juntar-se à prefeitura. Esquece o centro de convenções, joga fora o estacionamento e põe as lojas no Hotel Glória. Peçamos a arquitetos de todo o mundo uma marina simples, pública.
Os mafuás erguidos no parque, e são muitos, nasceram do interesse predador de empresários amigos de presidentes, governadores e prefeitos. Eles são apenas espertos. Responsabilizá-los pela nossa leviandade é uma injustiça. Vá à luta. Defenda o parque que dei à cidade.
Saudações de um governante que amou o Rio, e é visto assim, mesmo por aqueles que o chamavam de Corvo.
Carlos Lacerda”
Elio Gaspari
Cabe à prefeitura e aos órgãos de patrimônio zelar pelo interesse público, mantendo e preservando um patrimônio tão relevante para a cidade e seus cidadõas como o Parque do Flamengo. cabe sim ao poder público especialmente defendê-lo de investidas predatórias, e não é isso que vem ocorrendo no caso do Parque do Flamengo. Será este mais um caso de prevalência do interesse privado sobre o interesse público?
“”
Perfeito !
Pois é, nunca fui muito fã de Carlos Lacerda, mas do Elio Gaspari sou e assino embaixo. Precisamos mandar essa turma trabalhar, arrumar o que fazer, quem sabe surfar bem longe daqui… Não dá para continuar vendo e ouvindo a ocupação irregular com o olhar de aprovação das “autoridades”. Chega! QUE NOJO!
É com muita tristeza que vejo o parque no qual passei muitos momentos felizes de minha infância e adolescência ser usado, abusado e destruído pelos shows e eventos que causam poluição sonora e visual, acabam com o gramado e as plantas, e desviam a utilização do parque para interesses particulares. Me enoja ver este imenso interesse deste empresário inescrupuloso em abocanhar o parque, a marina, o hotel e muitos outros imóveis dos bairros da glória e centro. Tenho nojo do IPHAN, que deveria estar defendendo a área, e não servindo aos interesses escusos, tenho nojo da prefeitura, que autoriza os eventos poluidores, que concede exploração do parque e que expulsa seus verdadeiros e genuínos frequentadores.
Excelente! O Parque é nosso, do povo carioca, do povo brasileiro e outros visitantes.