Gritos e sussurros: entre casas e carros
Esclareço a todos os leitores que desde a divulgação da compra de carros para os Gabinetes da Câmara do Rio, enviei ofício à Mesa Diretora da Casa dispensando o veículo funcional.
(Confira minha entrevista ao RJTV e a íntegra do Ofício)
A imprensa tornou a Câmara Municipal manchete de seus noticiários em virtude da proposta de compra de cerca de 49 carros para trabalho dos Gabinetes dos Vereadores. Gritos e mais gritos que repercutem na mídia carioca, e que faz aumentar a ira dos cariocas contra a já combalida classe dos políticos.
Longe da gritaria midiática, tramita, sem qualquer sussuro, o pré-edital de venda de CEPACS de índices construtivos no Porto Maravilha, cuja venda, em monopólio para o comprador que se apresentar, tem o valor estimado em R$ 3 bilhões.
Já que para a área do Porto Maravilha não está previsto, em lei, concretamente, nenhum espaço destinado à habitação social, como deveria estar, por conta de ser uma área central com estrutura urbana, protocolei hoje, nesta mesma atual combalida Câmara – que tem servido como Geni para desafogar uma revolta social muito mais geral -, um projeto de lei reservando a área do antigo projeto SAGAS, e adjacências, como áreas destinadas a este fim social – habitação.
Para isto, também 10% dos recursos dos CEPACS podem ajudar, não só a recuperar o patrimônio cultural da região, como também finalmente realizar o sempre futuro projeto de moradia social.
Deponho, com toda franqueza, que até eu mesma desconhecia a dinâmica de trabalho nos gabinetes dos Vereadores. Estes, ao contrário do que se imagina, não têm a menor condição de funcionarem fechados, imaginando a próxima lei que irão propor. Mera ilusão.
A verdade é que o trabalho aqui é uma correria danada, prá lá e prá cá, atendendo, diariamente, dezenas de solicitações de bairros, comunidades, reuniões, audiências, em todos os horários, especialmente, à noite e nos finais de semana. Inimaginável. Se o atendimento é bom, ou ruim, de qualidade, ou não, isto será sempre julgado de quatro em quatro anos, pelos eleitores.
Se for bom, pode ser que seja relativamente mais barato, no Município, se comparado aos demais Poderes.
O que sai caro, e é difícil ouvir protesto em tão alto som, é dos milhares de recursos que não são captados das mais valias urbanas dadas por índices construtivos gratuitos, nos contratos milionários de transporte, nas contribuições de iluminação pública onde não tem luz nas calçadas, nas isenções fiscais dadas às empresas, e tudo mais que diuturnamente é desperdiçado no serviço público.
Criticar é importante. Mas, se as pedras forem poucas, talvez o alvo principal não seja atingido: o desperdício e a má gestão dos serviços públicos.
Eu achei o botão PUBLICAR COMENTÁRIO, o VISUALIZAR, mas não encontrei o ENGOLIR SAPO ou o VOMITAR CONVULSIVAMENTE… Talvez um aumento ajude a investir em uma atualização do blog… coisa de uns 60%… Afinal de contas, suas funções são muito mais exigentes que a de um médico ou de um professor, que já recebem salários "em acordância" com seus atributos e capacitações… que bom que todos nós conseguimos colocar a cabeça no travesseiro à noite e dormir tranquilos e com a sensação de que fizemos tudo que estava a nosso alcance…
Cara Dra. Sonia Rabello,
Dos usos e abusos do poder, todos nós estamos fartos, mesmo os mais desfavorecidos, que receberam maiores narizes vermelhos e pares de tapa-olhos de pirata, para fazerem de suas vidas um eterno carnaval alienante.
O bom, afinal, é ouvir sua voz se alevantando acima da lama fétida costumeira.
Quanto ao esforço de "atendimento" dos vereadores, pode ser racionalizado, se as pautas de planejamento de audiências forem organizadas por prioridade e não por favoritismo comissionado.
Finalmente uma voz ressaltando um dos maiores desperdícios produzidos pela má gestão urbana! Parabéns Sônia por disparar em favor da captura de mais valias urbanas produzidas pela distribuição gratuita dos índices construtivos – sobretudo nesta cidade que vive hoje um momento de euforia imobiliária (ganância de uns com a cumplicidade histórica do poder público local).
A política urbana que deveria ser a principal matéria da vereança é muito mais complexa do que a questão da compra de carros para os edis.
Enquanto discutem os carros (e isto é importante) a cidade é vendida como uma mercadoria retalhada pelo Executivo.