IPHAN no governo interino: instituição ameaçada?
Que mistério indecifrável faria com que homens públicos, supostamente cultos, como o Presidente interino M. Temer, (doutor e professor de Direito), e o Ministro da Cultura, M. Calero (diplomata de carreira), cogitassem e ameaçassem intervir no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), instituição de prestígio internacional e responsável pela bem sucedida trajetória de 80 anos de serviços prestados à preservação da memória e identidade nacionais? Por quê da pergunta?
Porque a Medida Provisória 728/2016, que recriou o Ministério da Cultura (MinC), trouxe uma perplexidade político-administrativa inexplicável. Criou, no “novo” MinC uma “Secretaria Especial do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional“.
E para que serve uma “Secretaria Especial do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional” na estrutura da administração direta do Ministério, se para a função de tutelar o Patrimônio cultural nacional já existe o IPHAN, autarquia federal, vinculada ao MinC, e que tem esta função determinada em lei ?
Se a inclusão desta secretaria no texto da MP728/2016 foi uma pegadinha descuidada, ninguém até agora explicou. O novo ministro desconversou, quando perguntado sobre o assunto em entrevista ao Jornal Folha de SP. Eis o que disse, quando perguntado se, com a criação da nova “secretaria”, o IPHAN deixaria de existir…
“O IPHAN está preservado, [sem dizer se será preservado]. Conversei com o Ministro Eliseu Padilha, e nada será feito neste momento [neste momento é neste momento, e não no futuro]. A Casa Civil entendeu que seria interessante ter uma estrutura posta, caso a gente quisesse avançar [interessante para quê? Avançar em que direção e por quê?]. Entendeu-se que seria o caso de criar uma estrutura caso no futuro partíssemos para o modelo anterior [ qual modelo anterior? Uma estrutura já, sem função, para um futuro de quê?]
Com uma resposta dessas, só dúvidas e desconfianças foram geradas.
Tentativa de esvaziamento ? – Para alguns, paira uma enorme desconfiança de que esta Secretaria seja uma ponte lançada para tentar esvaziar, pela “enésima” vez, as competências do IPHAN, em sua missão institucional de proteger o patrimônio nacional.
É que na história do IPHAN, todos sabem, a ação de proteção do patrimônio cultural afeta, muitas e muitas vezes, interesses de alguns investidores que querem passar por cima de condicionantes culturais ou ambientais em suas licenças. É o que denuncia o ex-ministro do MinC em entrevistas recém-publicadas.
Também gira na internet carta atribuída aos Conselheiros do Conselho Consultivo do IPHAN alertando o presidente interino M. Temer sobre a temeridade que é propor pseudo-estruturas administrativas para o “futuro”, para “avançar”, não se sabe para onde, às vésperas da instituição completar, às duras penas, 80 anos de existência e de bons serviços prestados ao Brasil. Instituições civis também publicaram a inconformidade dos leais servidores do IPHAN.
De qualquer forma, tudo parece desconexo, também juridicamente. Isso porque as competências institucionais da autarquia IPHAN estão determinadas em lei (sentido material e primário) de 1990, até hoje vigente . Significa que somente outra lei poderá subtrair-lhe atribuições. E como a MP 728/2016 somente criou uma Secretaria, sem dar-lhe qualquer competência legal, não foram aí minimizadas as competência do IPHAN; e que não poderão sê-lo por decreto.
O descuido institucional poderá, sem maiores danos, ser corrigido pelo Congresso, na apreciação a MP 728. Uma emenda supressiva, ou de nova redação, será suficiente para colocar nos trilhos a anomalia institucional, sem o que seria necessário nova lei para dar sentido às funções institucionais da nova Secretaria e pareada com o IPHAN. Há tempo e oportunidade para isso.
Resta portanto crer que o Governo interino, e as autoridades acima mencionadas, realmente não se esquivam de corrigir os equívocos. Este é mais um que ainda não chegou ao andar de cima na imprensa nacional e internacional. Por enquanto.
Obrigada pelos comentários
Sonia Rabello
isso eh fruto de uma politica urbana que o iphan nao quiz trabalhar o regionalisno que nunca entrou no iphan com sua equivocada visao de nacional e unico ,sua ligaçao com a cultura das belas artes e do colonizador ,
o que eh importante em termo de patrimonio arquitetonico no amapa ,nao eh no mato grosso ,nao eh no rio grande no norte,nao eh no do tocantins ,nao eh em santa catarina ,
Não tenho muito conhecimento do assunto, acredito que seja mas uma manobra inerente ao tipo de
governo exercido nos últimos anos no Brasil.
Prezada Drª Sônia Rabello,
Primeiro pela honra do contato e parabenizando pela abordagem sobre um assunto de relevância que compromete a integridade desse Órgão importante para a preservação de nossa memória!
Parabéns!