Joaquim Cruz e o Complexo do Maracanã: em defesa do patrimônio esportivo do Rio
Entrevista exclusiva ao blog SR, diretamente dos EUA
Joaquim Cruz, medalhista olímpico e ícone do esporte brasileiro, defende a preservação do Complexo Esportivo do Maracanã, em especial o estádio Célio de Barros. Membro de uma das mais brilhantes gerações de corredores de meio fundo, nesta entrevista, reafirma a importância do local na formação de profissionais do esporte no Rio, e analisa o que tem sido feito com os espaços dedicados à formação de atletas.
Blog SR – Em 1981, você se consagrou como recordista mundial na categoria juvenil dos 800 m rasos, no Célio de Barros, que também foi berço de vários outros competidores consagrados. Hoje, não somente as pistas do Estádio de Atletismo, mas também o Parque Aquático Júlio Delamare, estão ameaçados de serem demolidos. Como você analisa essa intenção de se destruir unidades desportivas completas, recém reformadas e plenamente operacionais para o esporte brasileiro às vésperas da cidade sediar a próxima Olimpíada ?
Joaquim Cruz – Infelizmente, os responsáveis pela renovação do Estádio do Maracanã têm pouco reconhecimento pelas histórias de ambas instalações. As pistas do Célio de Barros e o Parque Aquático Júlio Delamare foram palcos de treinamentos para muitos atletas brasileiros que chegaram a conquistar um total de 27 medalhas em olimpíadas, 14 medalhas no atletismo e 13 na natação. Ao tratarmos de legado, simplesmente estão andando na contramão ao destruírem as unidades esportivas existentes. É uma decisão infeliz e incorreta, principalmente na cidade sede dos jogos Olímpicos e Paraolímpicos.
Site SR – Atualmente, você atua como treinador na formação de novos atletas norte-americanos. Enquanto os EUA buscam, há cerca de seis anos, o lugar ideal para que os seus esportistas treinem para os Jogos de 2016, os atletas brasileiros, talvez, não possam contar com um dos únicos espaços públicos na capital fluminense com categoria olímpica para treinamento. Na sua opinião, quais as consequências que essa demolição poderá trazer para a nossa Cidade e para a história do esporte brasileiro?
Joaquim Cruz – Esta decisão simplesmente confirma que os atletas estão em segundo plano para os jogos olímpicos. Chegar ao pódio quando se tem todo o apoio necessário já é um objetivo dificilmente conquistado. Sem o apoio para os atletas então, vamos ter que nos contentar somente com as participações.
Site SR – Você dedicou a vida ao esporte. Hoje, como observa essa falta de comprometimento com o futuro do esporte no país e a manutenção dos bens públicos ?
Joaquim Cruz – Eu comecei no esporte no meu bairro. Fui incentivado por um menino mais velho que liderou um grupo de garotos a construir os campos de futebol, fazer “vaquinha” para comprar a bola e camisetas brancas que, em seguida, eram tingidas nas cores do time preferido. O líder também organizava os treinos e os torneios. As crianças que vivem nos bairros mais pobres não esperam as autoridades se comprometerem e criarem os espaços esportivos em suas comunidades. Elas simplesmente se juntam e fazem acontecer.
E assim ainda ocorre em muitos periferias. As minhas outras instalações esportivas foram as árvores das matas, os córregos e o cerrado de Taguatinga (Brasília). Quando iniciei no basquete com 12 anos, no Sesi, já era um garoto com um porte físico semi-formado para receber os treinamentos estruturados de um professor. As instalações esportivas do Sesi fizeram a grande diferença no início da minha carreira. Tive a oportunidade de treinar na pista interna e externa do Estadio Mané Garrincha, em 1978. Também utilizei muito a pista da Universidade Nacional de Brasília. Como não houve manutenção, vi o tempo e a natureza degradando as unidades esportivas sem perdão.
O Rio de Janeiro, hoje, deveria estar seguindo todos os pré-requisitos necessários que uma cidade sede do Jogos Olímpicos e Paraolímpicos normalmente segue, ou seja, a criação de instalações esportivas, de programas esportivos em comunidades e a promoção de competições dos mais variados níveis.
Site SR – Qual a importância que o Complexo Desportivo teve em sua formação? Na sua opinião, o esporte tem sido tratado pelos nossos governantes como uma dimensão da cultura cidadã baseada na escola ou sobretudo como um lucrativo ramo de negócios ?
Joaquim Cruz – Os espaços esportivos são de grande importância no desenvolvimento do corpo e da mente do cidadão.
Nós temos o dinheiro e o espaço físico para construirmos unidades esportivas básicas nas escolas. Poderíamos utilizá-las para os jovens durante o período escolar e transformá-las em mini clubes para os atletas estudantes e para a comunidade no período da noite e nos finais de semana. Todos lucrariam com isso.
Resumo biográfico:
Natural de Taguatinga, no Distrito Federal, foi através do basquete que Joaquim Cruz aproximou-se do esporte. Mas, em maio de 1977, foi inscrito, por trote, nas provas de atletismo do Campeonato Brasiliense Estudantil, dando início a uma carreira de sucesso.
Participou da competição e chamou a atenção pelo desempenho nos 1500 metros. Já no ano seguinte, começou a treinar e passou a particpar de competições oficiais de atletismo, ganhando duas medalhas de ouro (400 e 800 metros) no Campeonato Brasileiro de Menores.
Em dois anos conquistou sete medalhas de ouro internacionais e uma de bronze. Em junho de 1981, no Estádio Célio de Barros, bateu o recorde mundial nos 800 metros da categoria 18/19 anos, no 7º Troféu Brasil, no Rio de Janeiro, e recebeu uma bolsa de estudos da Bring Young University, em Utah, nos Estados Unidos (EUA).
Nos anos seguintes, ganhou ainda o bronze no Mundial de Helsinque, na Finlândia, o ouro nas Olimpíadas de Los Angeles (1984), ouro nos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis (1997) e prata em Seul (1998). Em 1995 obteve a medalha de ouro no Pan-Americano de Mar del Plata nos 1 500 metros.
Parabéns Sonia Rabelo pela matéria e parabéns ao Joaquim Cruz por defender a preservação desses dois estádios. Participei da reunião que aconteceu dia 16/05 na Defensoria Pública da União e tambem continuo nessa luta com voces. Eu gostaria que o Robson Caetano e outros atletas que competiram nesses estádios também se pronunciassem a respeito dessa situação. Eu gostaria tambem é que todos os cidadãos cariocas fossem as ruas cobrar das autoridades a manutenção desses estádios tão importantes para o esporte do Rio de Janeiro e de todos os estados brasileiros. Vamos fazer um movimento a nível nacional e não deixar que destruam esse patrimonio. Onde estão os caras pintadas ? Onde estão os cidadãos que só se vestem de verde e amarelo durante a copa do mundo. Acordem.
Parabéns Joaquim Cruz e Sonia Rabello pela defesa da preservação do Célio de Barros e Júlio Delamares.
Olá sonia adorei o BLOG, que Deus continue te abençoando, e muito obrigada por deixar publicação de atletismo no mural de atletismo da minha escola.. Continue mandando te agradeço beiiijos; Thais Souza
Brasil: O único país do mundo, civilizado, que “se prepara” para as Olímpiadas “destruindo” complexos desportivos em perfeito estado…Nem o “talibã” teria “feito pior”…
Exelente entrevista de apoio a nossa causa em prol da preservação dos dois importantissimos equipamentos esportivos públicos!!!