Maracanã: impasse entre torcedores e autoridades
O que se sabe, afinal, sobre a imensa reforma do Maracanã, para a Copa de 2014?
Sabe-se que ele está sendo parcialmente demolido, para sua reconstrução em um “estilo” FIFA, e para cumprimento das exigências desta entidade internacional.
A “reforma” está orçada, até o momento, em quase R$ 1 bilhão.
Além disso, sabe-se que o Superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) no Rio deu autorização para a demolição do famoso estádio tombado, por entender, pessoalmente, que seu “tombamento etnográfico” não estaria protegendo, necessariamente, sua arquitetura, mas sim sua funcionalidade, como arena esportiva.
Ontem, dia 28 de julho, em audiência pública, realizada no auditório do Ministério Público Federal no Rio, soube-se um pouco mais.
Soube-se que:
– A Frente Nacional dos Torcedores sofre com a proposta de reforma do estádio, cujo projeto desconhece;
– Os torcedores querem um estádio que retrate o jeito “Maraca de torcer”, aberto, sem coberturas ao sol e à lua, sem espaços privilegiados, sem cara de “estádio shopping center”;
– Pelo dizeres privilegiados do professor Carlos Lessa, o Maracanã é uma relíquia. Como tal deve ser preservado, até porque está tombado;
– Segundo uma torcedora, e também professora, apaixonada pelo Maracanã,a exemplo das reformas de escolas nas quais os professores devem ser consultados, pois são eles que sabem sobre a funcionalidade das mesmas, na reforma dos estádios a consulta aos torcedores é imprescindível, pois sem eles, o estádio não tem alma, nem sentido.
Os torcedores estão inconformados, pois estão afastados deste processo de consulta, e decisão sobre o futuro do “Maraca”, “templo da vibração”, “espaço do povo”.
O engenheiro responsável por sua “reforma”, Dr. Ícaro Moreno, justificou a drástica intervenção porque:
1. O estádio estaria estruturalmente comprometido, fato este surpreendentemente desconhecido, já que em 2007 foi feito uma reforma no mesmo para o PAN, onde engenheiros e firmas de Engenharia fizeram avaliação e obras no estádio. Como não viram nada, então?
2. Está “intimado” a entregar a chave do mesmo em dezembro de 2012 à FIFA, para a Copa das Confederações. Não fosse este prazo, e se tivesse mais tempo, sugeriu que, talvez, a “reforma” pudesse ser pensada mais detidamente, com maiores consultas!
Na audiência houve surpreendentes depoimentos dos professores de Engenharia, que detectaram o “falecimento” das estruturas do estádio. O “Maraca” estava doente e ninguém sabia?
Precisamos então ressuscitar o Estádio do Povo. Se ele é uma “relíquia” do futebol brasileiro, símbolo maior do nosso esporte predileto, a questão chave que se coloca é como fazer o que é preciso.
A pergunta chave foi feita por Cristopher, na audiência: a proposta “reforma” do “Maraca” é a compatível com o seu valor etnográfico? Com a preservação da imagem-símbolo que está gravada na alma dos torcedores, e no coração do Brasil? Ou devemos “evoluir” para um novo jeito FIFA de ser, e de torcer?
Pelo jeito, os torcedores, alma do “Maraca”, pensam que não. Eles querem o seu “Maraca” de volta!