O desmonte da Rádio MEC
A rádio MEC, uma das emissoras mais importantes da referência cultural e a mais antiga do país, corre o risco de ser extinta ou pelo menos de perder a sua programação voltada para a música clássica.
No último dia 25, o programa “Sala de Concerto” foi cortado e, segundo informações, desde janeiro deste ano, centenas de profissionais no Rio foram demitidos, entre jornalistas, produtores executivos, apresentadores, locutores, operadores de áudio e técnicos de manutenção.
O processo de “enxugamento” da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), empresa responsável pela manutenção da rádio, tem ocorrido para que passe a cumprir uma missão marginal à Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), fundada em 2007 para gerir as emissoras de rádio e televisão públicas.
A mudança estava prevista na lei que criou a EBC, mas havia sido evitada até agora através de duas Medidas Provisórias (MPs), que conseguiram estender o tempo de “vida útil” da Acerp, e consequentemente o emprego dos profissionais da estação três anos a mais que o prazo previsto em lei.
Confira a petição que já reuniu milhares de assinaturas em defesa da emissora.
O desmonte – No dia 21 de março de 2013, de acordo com o impresso “Amigo Ouvinte”, os funcionários foram surpreendidos com uma ordem judicial interditando o lugar, com prazo de três dias para que tirassem todo equipamento e acervo, sendo obrigados a saírem do prédio que ocupavam (AM, há 71 anos e a FM há 30 anos). Foi alegado que o prédio estava condenado.
O valioso acervo, os grandes estúdios, quase tudo ficou para trás. O momento de tensão agrava-se não somente pelo fato da rádio estar fora do Ministério da Educação desde 1998, a rádio agora ficou fora do lar. Ou seja, estão interditados, há mais de um semestre: o maior estúdio do país, os estúdios A e B, o Auditório, a Discoteca e suas cabines, todas as salas da AM e FM, as cabines de transmissão; os estúdios do 5º andar e a sala de Direção.
Além disso, o elenco também está sendo desertificado e os números referenciais da AM e FM no dial mudarão por ordem do Ministério da Comunicação. O que sobrará da velha rádio ?
História
A Rádio MEC pode ser considerada a mais antiga emissora do país, pois descende da pioneira Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada em 1923, por Roquette-Pinto, Henrique Morize e outros membros da Academia Brasileira de Ciências e da sociedade da época. Como, naquela época, o modelo de programação mais próximo do que pretendiam botar no ar era a programação das agremiações lítero-musicais, movidas a palestras e recitais, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro constitui-se como uma agremiação desse tipo – com o diferencial de que podia irradiar os seus saraus.
Durante seus 13 anos de existência, a emissora manteve uma programação eminentemente “cultural”, e, demonstrando que cultura também “educa”, “ensinou” poesia, literatura e ciência, “educou” ouvidos para a música de concerto e “deu as primeiras aulas” de pronúncia padrão brasileira da língua portuguesa. Ninguém tem dúvida de que o rádio brasileiro foi um dos principais responsáveis pela unificação linguística do país, mas nem todos sabem que a coisa começou com a Rádio Sociedade, Assim, apesar de transmitir uma programação cultural, a Rádio Sociedade também foi o berço da ideia do rádio educativo – uma ideia que amadureceu enquanto Roquette-Pinto era seu diretor, e que estava pronta, quando ele doou a estação ao governo.
A doação
Em 1936, a nova lei de comunicações exigiu que todas as estações aumentassem a potência de seus transmissores e, Roquette-Pinto, que dirigia a descapitalizada Rádio Sociedade, descartando a possibilidade de buscar capital na praça e tornar-se um empresário do ramo das comunicações, preferiu doar a emissora ao, então, Ministério da Educação e Saúde. Mas impôs as condições de que a rádio transmitisse apenas programação educativa/cultural e não fizesse proselitismo de qualquer espécie – comercial, político ou religioso. Tal compromisso, assumido através de ato jurídico perfeito, foi mantido até 1995, quando, logo no início de seu governo, Fernando Henrique Cardoso desvinculou a Rádio daquele ministério e colocou-a, junto com a TVE, sob a tutela da Secretaria de Comunicação da Presidência da República.
Uma Rádio Educativa e Cultural
A Rádio Ministério da Educação e Saúde, depois Rádio Ministério da Educação e Cultura e hoje Rádio MEC, é uma rádio de resistência cultural, e tem prestado um inestimável serviço. Uma legião de ilustres colaboradores produziu, ao longo de sete décadas, uma programação única. Produtores, músicos, escritores, radioatores, poetas e jornalistas como Cecília Meireles, Carlos Drummond e Manoel Bandeira, Geny Marcondes, Fernanda Montenegro e Fernando Torres, Sergio Viotti, Otto Maria Carpeaux, René Cavé, Fernando Tude de Souza, Magalhães Graça, Edna Savaget, Francisco Mignone, Alceo Bocchino, Edino Krieger, Marlos Nobre, Paulo Santos, Nelson Tolipan…
O acervo – Os mais antigos programas conservados pelo Acervo da Rádio MEC, um dos mais importantes do país, remonta à década de 1960. Da programação e do cast de rádio teatro que a rádio manteve até final dos anos 1980, restam poucos exemplares, sendo o mais importante o Teatro Sérgio Viotti, com 60 programas em bom estado. A voo de pássaro, pode-se dizer que os 3000 programas acervados são um espelho das três grandes realizações da emissora: o rádio educativo e o rádio cultural (cujo capítulo principal foi escrito em parceria com a Orquestra Sinfônica Nacional).
Uma programação musical única e a maior experiência brasileira de educação a distância
Nenhuma rádio brasileira divulgou tanto e por tanto tempo a música de concerto. A importância que ela teve para a nossa música erudita equivale à importância que a Rádio Nacional teve para a nossa música popular. No que diz respeito à produção da musica de concerto brasileira, propriamente dita, a Rádio MEC prestou um serviço incomparável, porque, além de transmitir e divulgar, produziu centenas de gravações exclusivas da Orquestra Sinfônica Nacional, da orquestra de câmera, e também de duos, trio , quarteto e quinteto instrumentais. Várias dessas gravações – realizadas no Estúdio Sinfônico pelo lendário técnico Manoel Cardoso.
A propósito da OSN, a única orquestra radio sinfônica que o país teve, deixou de pertencer à Rádio, em 1981, está hoje, desfalcada, na UFF, em Niterói. A disposição dos Amigos Ouvintes é a de negociar o retorno da OSN à sua origem, fazendo com que a Rádio volte a possuir uma orquestra – como acontece com a RTF, com a Rádio da Baviera, e tantas outras emissoras européias e dos USA –, e retomar seu programa de ensaios e gravações de nossa música de concerto, é uma necessidade cultural que precisa ser satisfeita.
A emissora protagonizou os mais importantes capítulos da história do rádio educativo brasileiro. Abrigada no Ministério da Educação, e pondo em prática o modelo sonhado por Roquette-Pinto, a rádio provocou a criação do SRE–Serviço de Radiodifusão Educativa, e passou a transmitir uma programação única, que, na década de 40, já estava coim bastante qualidade de broadcasting e incluía divulgação cientîfica, literatura, aulas de ginástica, cursos de Alemão, Francês, Inglês e Língua Portuguesa. De lá pra cá, passando pelos programas do Colégio do ar foto nos anos 1950; e pelos do Projeto Minervafoto nos anos 70; até 1998, quando foi retirada do Ministério da Educação, são quase cinquenta anos de produção ininterrupta, transmitindo milhares de programas e centenas de séries educativas. Com o Serviço de Radiodifusão Educativa ainda ativo, e a famosa portaria 568 – que tornava obrigatória a transmissão de programas educacionais em todas as rádios –, as séries e campanhas produzidas ali, no centro do Rio de Janeiro, alcançavam quase todo o país.
Após o Minerva, e até mesmo após a extinção do SRE, a Rádio continuou produzindo, em menor escala, séries de educação para o trânsito, higiene, programas de Ciência, História e Língua Portuguêsa. Hoje, apesar de praticamente não transmitir programação educativa, a emissora continua a educar, pois continua a ser uma rádio cultural.
Os Amigos Ouvintes defendem a volta da emissora ao Ministério da Educação, a quem ela pertence de direito, e consideram que só assim ela poderá retomar sua função educativa e voltar a a fazer, efetivamente, parte da expressão cultural da cidade e do país.
O lema de Roquete Pinto, “PELA CULTURA DOS QUE VIVEM EM NOSSA TERRA E PELO PROGRESSO DO BRASIL’ foi agora mais uma vez ignorado, possivelmente por alguém que jamais ouviu falar deste grande brasileiro, com certeza muitos “intelectuais” que apoiaram este governo corrupto que ai está. A Rádio MEC e Radio Nacional, como instituição, nunca foram tão achincalhadas, e o mesmo destino terá a TVE. Aonde Gilson Amado, tanto se bateu pela sua existência e o uso da TV em programas estritamente educativos. Um ouvinte que escreveu neste site comentou sobre a OSN, na verdade se hoje ela esta na UFF ( não sei se já arranjou lugar para ensaiar) seria extinta. Enfim Srs. sugiro que leiam o FEBEAPA I e II , de Sérgio Porto e verão que os de agora são mais incultos apesar dos pesares
hoje, 30/09/2014 a Rádio MEC FM ficou muda o dia inteiro. O que está acontecendo?
Sonia, é importante ressaltar que o desmonte atinge duas emissoras: a MEC FM, única dedicada à música clássica no Rio de Janeiro, e a MEC AM, essa sim, descendente direta da Rádio Sociedade criada por Edgar Roquette-Pinto há exatos 90 anos. A importância da MEC FM é conhecida, consagrada. A AM representa para os músicos populares o que a FM representa para os músicos eruditos. Pergunte à Leny Andrade, ao Guinga, ao Tunai, ao João Bosco e a tantos outros, novos e consagrados, que não encontram em qualquer outra rádio o espaço que sempre encontraram na MEC AM.
Quando percebi que o site da MEC FM tinha sido tirado do ar e em seu lugar apareceu o atual da EBC conclui que algo grave estava no ar. A MEC era comparavel às rádios internacionais como Classical 101 Dallas, como Classical New England e as muitas emissoras européias. Parece que não é mais. Como prescindir de podcasts.item essencial das radios clássicas de Europa e Estados Unidos? Perdemos Lauro Gomes. E esta calamidade é comunicada como “uma natural troca de pessoas”…”decorrente de uma lei…Que lástima. Será que a pessoa de Lauro Gomes não era percebida como uma parte integral da Emissora? Que pessoas estas que serão agora os nomes por trás da MEC? Não parecem estar a altura.
Recebi o último exemplar da SoarMec, “AmigoOuvinte”, de nº 51 (outubro 2013) e fiquei estarrecido com a devassa feita no prédio da Praça da República. Houve decisão judicial para o esvaziamento do prédio, a partir de iniciativa do Ministério Público. Não houve defesa? As fotografias exibidas no referido boletim mostra verdadeira agressão ao patrimônio cultural brasileiro. Nem na ditadura militar houve tamanha atrocidade. O polêmica se iniciou no governo de Fernando Henrique Cardoso, responsável pela sedimentação do neoliberalismo no Brasil, seguido pelos Governos de Lula e Dilma Roussef. Todos, sem exceção, trabalharam e continuam se submetendo ao capitalismo internacional, responsável pela degradação humana e cultural. Não há elitismo na música clássica, posto que pode ser conhecida e amada por todos. A educação é o meio adequado para difundi-la. Seria interessante que os esquerdistas de plantão estudassem Caio Prado Junior para conhecerem nosso passado e o que pode ser feito no presente.
Recebi o último exemplar da SoarMec, “AmigoOuvinte”, de nº 51 (outubro 2013) e fiquei estarrecido com a devassa feita no prédio da Praça da República. Houve decisão judicial para o esvaziamento do prédio, a partir de iniciativa do Ministério Público. Não houve defesa? As fotografias exibidas no referido boletim mostra verdadeira agressão ao patrimônio cultural brasileiro. Nem na ditadura militar houve tamanha atrocidade. A polêmica se iniciou no governo de Fernando Henrique Cardoso, responsável pela sedimentação do neoliberalismo no Brasil, seguido pelos Governos de Lula e Dilma Roussef. Todos, sem exceção, trabalharam e continuam se submetendo ao capitalismo internacional, responsável pela degradação humana e cultural. Não há elitismo na música clássica, posto que pode ser conhecida e amada por todos. A educação é o meio adequado para difundi-la. Seria interessante que os esquerdistas de plantão estudassem Caio Prado Junior para conhecerem nosso passado e o que pode ser feito no presente.
Vamos fazer um abaixo-assinado, pelo amos de Deus.
Sonia, importante iniciativa. Assinei petição. Desde criança escuto a Rádio MEC. Inconsebível acabar com a MEC AM e FM. Como viver sem MEC FM com sua música de concerto ? o melhor do clássico? Jazz, samba jazz e mesmo as óperas nos domingos? Estamos, amigos/as, indignados. Há mais de um ano que escrevo para EBC percebendo o descaso com a música erudita / MEC FM, em especial /. Só querem o acústico o importado modernoso.
Não sei como enviar mensagem para a Presidenta Dilma, sei que ela ouve os clássicos e conhece/ama Ópera. Poderia intervir (???)
Por Cristo… Acabem com o Brasil, desmontem o país, dêem a Petrobrás, emprestem o Eike Batista, vendam o Neymar, , quebrem os discos do Roberto, façam pedra britada com o Pão de Açucar, aterrem a Baía e Guanabara, mas deixem a pobre Rádio MEC em paz. Esses caras não tem mais nenhuma maldade para fazer ?
Há séculos que ouço com frequência quase que diária a Radio MEC, porque é a única emissora do Rio que transmite musica erudita, a despeito de todas as grandes dificuldades que lhe tem sido impostas, de há muito.
Francamente, não sei o que dizer. Se de um lado os seus programas, talvez devido às imposições das suas patrocinadoras, sejam medíocres, em extremo, por outro lado, é a única emissora que se dá ao luxo de tocar música erudita, e faz muito tempo, enquanto que nós de sua audiência sempre esperamos por coisas melhores em sua estrutura. Parece que mais uma vez perdemos a parada. Os donos do poder exigem a cafonice, o brega, os robertocarlos da mediocridade conterrânea e importada. É como dizia um amigo de uma prima: “Vamos todos!”
Esse artigo conta como a censura acabou com o acervo http://goo.gl/eLZ7qQ