O Maracanã e a Praça Nossa Senhora da Paz: destombados de fato?
Em ambos os casos, os governos estadual e municipal, respectivamente, evitaram, ou estão evitando o vexame do destombamento, desses bens. Porém, é possível que aprovem, no caso da Praça Nossa Senhora da Paz, sua destruição mesmo sem destombá-la, como fizeram com o Maracanã, ao aprovarem uma obra que descaracterizou totalmente o maravilhoso estádio. O que virá depois, pode não ser ruim, mas, certamente, não será o mesmo.
Os responsáveis pelas obras da Linha 4 do Metrô disseram que, para construir a estação de Ipanema, terão que destruir o que hoje é Praça N.Sa. da Paz, abatendo a quase totalidade de suas árvores para, quiçá, reconduzir as sobreviventes ao local. E mais, durante as obras, previstas para um período de cerca de quatro anos, o espaço ficará no limbo. É que para construir essa estação será necessário cavar um enorme buraco: uma obra a “céu aberto”, para depois se “reconstruir” a praça tombada!
É mais ou menos a mesma história ocorrido com o Maracanã: embora tombado, o então superintendente do IPHAN inventou uma nova teoria, pela qual se poderia descaracterizá-lo, sem destombá-lo, evitando-se, assim, o ônus do destombamento, mas com igual consequência destrutiva.
Oficiamos o subsecretário de Patrimônio Cultural do Município sobre eventual existência de processo de destombamento da Praça, uma vez que o Estado do Rio anunciou que, para construir a estação do metrô, terá que destruí-la. Fomos informados que não há procedimento de destombamento.
Porém, tomamos conhecimento de que, hoje, acontecerá uma sessão do Conselho de Patrimônio do Município, que examinará o pedido de intervenções na Praça. Solicitamos autorização para que um assessor do nosso gabinete presenciasse a sessão do Conselho, o que não nos foi permitido. Saberemos do resultado por ata, sem qualquer participação da sociedade civil, nem mesmo para assistir ao que se passa.
Estamos apostando nas altíssimas pressões para aprovação de todas as intervenções/destruições solicitadas pelo Estado. Tudo, provavelmente, com o argumento de que a Praça será, posteriormente, recuperada. Na verdade, a intervenção acarretará a destruição do patrimônio ali construído. Não se fará o destombamento, para não se ter o ônus da verdade. Mas se, de fato, autorizarem uma intervenção destrutiva na Praça, esse ato será, a rigor, equivalente ao que fizeram com o Maracanã.
Será a desmoralização do instituto do tombamento. E logo agora que a Cidade do Rio, se candidata, junto à UNESCO, ao título mundial de paisagem cultural! Pode?
Hoje, andando por Ipanema, ouvi falar de uma pesquisa segundo a qual 90% da população do bairro aprova a estação na NS da Paz. Mentira! Colhi centenas de assinaturas contra a destruição da Praça. Elas somam mais de 20 mil, hoje.
Um pouco mais tarde eu estava no ônibus e vi na tv interna que o embargo às obras da Praça tinha sido suspenso e que os trabalhos tinham sido reiniciados. Com foto e tudo, dos operários trabalhando. Logo que li a notícia, o ônibus passou em frente à Praça, bem devagar, no engarrafamento, pude olhar detalhadamente: não havia operários trabalhando lá, a feirinha orgânica seguia normalmente, as pessoas estavam na Praça. Era cerca de meio-dia.
Saltei do ônibus, fui resolver coisas na Receita Federal, na Barão da Torre, e voltei pra casa, tipo 13h, pela Praça. Os pássaros faziam a festa, nas sombras das árvores. Pra onde irão, se a Praça for mesmo destruída? Pra onde irão nossos bebês, nosso idosos, nossos cadeirantes? Ipanema não é só feita da moça que anda cheia de graça a caminho do mar, a população é feita de gente que tem necessidades e que escolheu o bairro pelo que ele oferecia. a cidade, o país, o mundo reverencia a Ipanema que eles querem destruir. O fato é que atravessei a Praça às 13h e não havia operários. Na notícia veiculada no ônibus tinha uma foto!!! É pesado o jogo em relação à Praça. Técnicas de propaganda!!!! Os operários, acho, devem estar em algum lugar inalcançável, junto com os tais 90% dos moradores de Ipanema que são favoráveis à destruição do coração/pulmão, alma do bairro que escolheram para viver.