Olimpíadas como pretexto: vereadores do Rio propõem lei de exceção para hotéis
Por que um grupo de vereadores (*1) da Cidade do Rio, apoiados por outros tantos parlamentares (*2), às vésperas de eleições para deputado federal e estadual (2014), sem ter nem por quê, propõem um projeto de lei que prevê a cessão gratuita de milhares de m² de construção, fora das regras gerais da Cidade e sem qualquer projeto urbanístico que o justifique? Quem se beneficiará? Empreiteiras da construção civil? Imobiliárias? Donos de terras na Barra da Tijuca?
Ao nosso ver, o referido projeto rompe com a ética urbanística da cidade. A proposta legislativa não se justifica no âmbito do planejamento.
Ela pretende dar, gratuitamente, para uns poucos proprietários de lotes e empreiteiros, milhares de m² em edificabilidade, completamente fora da regra geral dos bairros! O pretexto que pretende justificar o tratamento não isonômico desta exceção ao planejamento territorial da Cidade seria estimular a construção de hotéis para a Olimpíada ?
Isto está confuso no projeto de lei, já que apenas no inciso II do seu artigo 1º menciona que:
“II – para os cinco primeiros pavimentos a projeção máxima será de noventa por cento da área do lote, que terá Índice de Aproveitamento de Área – I.A.A. igual a 4,0, desde que as obras estejam concluídas até abril de 2016;”
Mesmo sem explicar como esta alegação se justifica, ela parece irrealizável, materialmente. Mesmo que a proposta legislativa seja aprovada antes das convenções eleitorais, em julho de 2014, supõe-se ser quase que materialmente impossível que as empreiteiras possam, antes de julho de 2016, elaborar os projetos, aprová-los na Municipalidade, contratar, executar e terminar as obras no prazo assinalado.
Justificativa ilegítima – Parece evidente que os proponentes sabem que a “pegadinha” do dispositivo está no conhecimento de que, na prática, não será necessário ter o projeto construído, mas simplesmente tê-lo aprovado, licenciado e estar na primeira laje para se garantir, juridicamente, sua execução fora do prazo da lei, para além de 2016!
Portanto, a justificativa legislativa é ilegítima porque não será sindicalizável.
Se uma cidade, como o Rio, tem um Plano Diretor (PD) em vigor, esta lei deve comandar todas as demais regras urbanísticas. E, é no Plano Diretor que encontramos o art.14, no capítulo sobre “Ocupação Urbana”, e que diz:
“art.14 – O uso e ocupação do solo em áreas ocupadas ou comprometidas com a ocupação serão regulados pela limitação das densidades, da intensidade da construção e das atividades econômicas, em função da capacidade da infraestrutura, da rede de transportes, e acessibilidade da proteção do meio ambiente natural, da memória urbana, do direito à fruição à paisagem natural da Cidade e da qualidade da ambiência urbana.
Parágrafo único: A regulação da densidade e da intensidade da ocupação do uso do solo considerará sempre: (…)
III – as densidades populacionais e construtivas existentes e projetadas;
IV – a oferta existente ou projetada de equipamentos e serviços públicos, infraestrutura de transporte e saneamento básico; (…)
VI – a existência de vazios urbanos e a capacidade de absorção de maior densidade; (…)”
Então, é elementarmente evidente que, ao se pretender cumprir o Plano Diretor da Cidade, não é possível propor leis que modifiquem índices urbanísticos comuns a todos, com regras de exceção, muito menos regras sem estudos de planejamento que as respaldem e que atendam, minimamente, as diretrizes acima especificadas.
Pouco controle e nula responsabilização
O que os senhores vereadores da cidade ainda não compreenderam é que o fato de poderem fazer leis não significa dizer que possam fazer qualquer lei ! Há uma hierarquia legal que deve ser observada e cumprida.
Mas, é difícil absorver esta noção básica da cultura jurídica-urbanística quando os controles são tão débeis e a responsabilização pelos malfeitos são praticamente nulos.
Mas, a esperança de se melhorar o legislativo, e o planejamento da cidade nunca se esmorecerá, ainda que a sede de espoliar a Cidade continue a mesma de sempre.
*1: Vereadores proponentes:
É preciso que façamos alguma coisa, antes que a Cidade do Rio de Janeiro fique completamente descaracterizada. O poder publico não se importa com isso, para ele só interessa os benefícios pessoais, temos que frear as empreiteiras, antes que transformem nossa cidade, nosso estado num lugar que todos reprovam como Balneário Camboriú. Um lugar tranquilo e bucólico virou uma aglomerado de prédios de 20, 30, 40 e por fim 70 andares, a cidade escureceu, ficou abafada e vão ter que aterrar o mal para que os banhistas consigam tomar sol.Só que gostou foi o prefeito que “lucrou” bastante com isso. Vcs falaram bem, pra que existem as leis se não se obriga a ninguém a cumpri-las. Isso já virou prática recorrente no Brasil, é uma pena…