Palacete São Cornélio: preservação adiada?

Palacete São Cornélio, no Catete, Rio: crônica de uma morte anunciada?

A triste trajetória de um importantíssimo bem cultural nacional submetido ao descaso de seus proprietários, e a ineficiência de fiscalização e recuperação pelos órgãos públicos responsáveis.Há cerca de cinco anos, o Palacete foi desocupado, ficando no mais completo abandono. Rapidamente exibiu sinais de degradação.  

 

História do Palacete – Situado na Rua do Catete, na Glória, o Palacete São Cornélio, patrimônio histórico e artístico nacional tombado pelo Iphan, foi construído em 1862 em forma de residência térrea com porão alto e fachada voltada para a via pública.

Naquela mesma década, em 1868, foi adquirido pelo Comendador João Cornélio que, em testamento, fez a doação do imóvel a Santa Casa da Misericórdia.

Em 1894, sob a invocação de São Cornélio, e assim cumprindo o desejo do doador, a Santa Casa transformou o Palacete, de arquitetura neoclássica, em asilo para meninas órfãs, daí a razão do nome Asilo São Cornélio.

No início dos anos 70, o Palacete deixou de ser orfanato, sendo depois alugado a uma faculdade privada de Medicina.

Há cerca de cinco anos, o Palacete foi desocupado, ficando no mais completo abandono. Rapidamente exibiu sinais de degradação. Talvez, dizem, para justificar a aprovação de um grande projeto de edificação em parte de seu terreno…

Ação comunitária em prol do Palacete

Numa visita feita pelos diretores do Conselho Comunitária da Glória (COM-GLÓRIA) às dependências do Palacete, foi possível constatar o seu profundo estado de abandono e ruína.  

“Numa primeira impressão pode se afirmar que o patrimônio tombado jamais teve suas dependências vistoriadas pelo Iphan, em favor da preservação do seu acervo artístico”, afirma um dos diretores.

Inconformados com o abandono do Palacete, os moradores da Glória assinaram Representação ao Ministério Público Federal. O Conselho tomou a iniciativa e fez todo o arrazoado histórico do Palacete, que embasou a Representação, anexando fotos que registravam o abandono, a ruína e a degradação deste patrimônio histórico.

O Ministério Público agiu rapidamente e, em acolhimento à Representação proposta pelo COM-GLÓRIA, logo ajuizou a Ação Civil Pública na Justiça Federal , (nº 00025103120114025101 – para consultar acesse aqui) na qual são réus a Santa Casa e o Iphan visto a responsabilidade dos mesmos pela situação do Palacete.Recebida a Ação, o juiz logo mandou citar os réus.

O Iphan foi o primeiro a se manifestar, transferindo a responsabilidade para a Santa Casa. Esta, por sua vez, transferiu a responsabilidade para o novo inquilino do Palacete, a empresa Gespar, que alugou o imóvel há três anos para ali instalar um hospital, deixando, entretanto, o negócio parado desde então.

No meio de um processo, que já acumula quase 700 páginas, e tentativas de desobrigações por parte dos órgãos “responsáveis”, o Palacete ainda aguarda um suposto projeto de recuperação emergencial e de restauro, proposto pelo atual inquilino.

Na Ação Civil, a Gespar apresentou ao juízo o projeto de recuperação emergencial, cuja placa foi afixada pelo Iphan na entrada lateral do Palacete. O valor de R$ 847.014, anunciado para o custeio da obra, será pago pelo erário público, isto é, por nós.

O projeto, porém, estaria travado por uma discordância no que se refere à execução arquitetônica, que se tornou objeto de disputa entre o Iphan e a Gespar. Nesse desgastante impasse, o Palacete se deteriora...

Bens culturais roubados

No fim do último ano, uma quadrilha furtou estátuas, bases e vasos de mármore e ferro fundido do Palacete São Cornélio.

Na ocasião, moradores do bairro e o Conselho Comunitário denunciaram e divulgaram o fato na imprensa, acionando a Delegacia do Patrimônio Histórico.

Dias depois, parte do que foi roubado foi recuperado. Hoje, está sob custódia da Polícia Federal, por tempo indeterminado, já que o casarão se encontra quase desabando. Os ladrões foram identificados, presos, e depois soltos.

Você pode gostar...

5 Resultados

  1. Lelia disse:

    Lá estive algumas vezes para visitar minha tia avó, Leonidia Verschueren, irmã da 2ª esposa de Augusto Malta, Celina, minha avó. Pesquisando sobre o asilo fiquei triste em constatar o abandono. Meu avô fotografou o Asilo. Existe toda uma história que não deveria ser perdida.
    Por outro lado fico feliz em saber que ainda existem pessoas, como você, na defesa do nosso patrimônio.

  2. Sonia Rabello disse:

    Obrigada pelos comentários. Pela Câmara, nossa ação tem sido a de constante acompanhamento, e ações junto ao Judiciário. Mas, não podemos nos substituir aos outros poderes…

  3. Wilson Guedes disse:

    Prezada Vereadora Sonia Rabello

    Quais as possibilidades de a Câmara Municipal através de sua Comissão de Cultura deesignar uma comissão para acompanhamento/Fiscalização da obra, tendo como membros Diretores da AMA-Glória / Com-Glória / Camara de Vereadores?

    Wilson Guedes
    Presidente da AMA-Glória
    8846-1958

  4. Maria Pia Salles disse:

    Professora Sonia,
    Triste relato de uma realidade. No Brasil é assim mesmo. As pessoas compram BMW, relógio ROLEX, bolsa LV. Estacionam o veículo importado em cima da calçada para beber cerveja no botequim, usando suas sandálias Havaianas. Moram em condições subhumanas – cortiço para pagar seus luxos. Ninguém dá valor à preservação do patrimônio. Usam a casa até desmoronar sem querer investir um centavo em sua conservação. O imóvel serve só para ganhar dinheiro. Nada mais. Triste comportamento…

  5. sonia, veja projeto realizado para o palacete seguindo orientacoes patrimoniais – http://www.aaa.com.br.
    entretanto, por questões contratuais com a santa casa, o projeto de um laboratório farmaceutico não foi a frente. uma pena.

    rodrigo azevedo
    AAA_Azevedo Agência de Arquitetura

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

pt_BRPortuguese
pt_BRPortuguese