Prédios históricos: degradação e abandono no Centro do Rio
As políticas públicas de conservação do patrimônio cultural da cidade, que servem de referência simbólica do nosso patrimônio coletivo, ainda permanecem em baixa. Atitudes de preservar e conservar, ao que parece, não foram incorporadas à agenda política que continua contaminada pela ideia de que o crescimento se dá pela antropofagia do que já foi feito, do território e do ambiente.
Promessas e discursos repetem-se diariamente, divorciados da prática de ações efetivas, contrastando-se com a realidade observada após uma breve visita ao Centro do Rio, um dos centros urbanos mais antigos das Américas. Há anos, é possível observar-se a lamentável situação de imóveis históricos, alguns tombados, entregues à degradação permanente.
Antigo Solar Visconde do Rio Seco
Em 2011, por exemplo, com toda pompa, foi noticiada a reinauguração da tradicional Praça Tiradentes, com a recuperação e limpeza do seu piso e a retirada das grades. O evento com festas e shows veio acompanhado da informação de que o Município teria restaurado, ao custo de alguns milhões, importantes prédios que circundam o local.
Entretanto, ainda hoje, o antigo Solar Visconde do Rio Seco, com detalhes neoclássicos em sua fachada, continua mergulhado em estado de abandono. Apesar de uma placa do Sebrae informando que as obras serão feitas, a previsão era de que O Centro de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB), fundado em parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro, abrisse suas portas em 2012 (!) neste antigo solar.
Localizado num dos cantos do antigo Largo do Rossio, na esquina da Rua Nova do Conde (respectivamente Praça Tiradentes e Rua Visconde do Rio Branco atuais), o edifício já existia no início do século XIX. Foi residência do Conselheiro de Estado Joaquim José de Azevedo, Barão do Rio Seco, elevado a Visconde, em 1818, por ocasião da aclamação de D. João VI e mais tarde agraciado por D. Pedro I com o título de Marquês de Jundiaí.
Em 1836, foi adquirido pela empresa “Clube Fluminense”, que permaneceu no imóvel até 1860, sediando festas e bailes requintados da Corte, que algumas vezes contaram com a presença da Família Reinante. A mais duradoura função do velho palacete foi como sede da Secretaria / Ministério da Justiça e Negócios do Interior, durante o II Reinado (1873-1889) e a República Velha (1889-1930).
A partir de 1934, passa a abrigar o Departamento de Trânsito, sucessivamente, do Distrito Federal e dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro. Desde o decênio de 1990, o edifício encontra-se desocupado. Hoje, o velho prédio agoniza,no aguardo de algum destino.
Automóvel Clube do Brasil
Outro caso semelhante é o do prédio do Automóvel Club, situado à Rua do Passeio nº 90, também no Centro do Rio. Apesar da recente pintura de sua fachada e troca de algumas vidraças (já quebradas), o imóvel tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, também amarga com o abandono e a decadência de suas estruturas internas há muitos anos.
O prédio foi ocupado pelo Bingo Imperial até 2003, antes de fechar definitivamente as portas. Atualmente, em algumas noites, sua pequena escadaria serve de “cama” para moradores de rua ou mesmo de banheiro para os frequentadores da região.
Comprometido por rachaduras e infiltrações e algumas vezes alvo de ameaças de desabamento, o imóvel hoje é uma pálida lembrança daquele projetado por Manuel de Araújo Porto Alegre para ser a residência dos Barões e Viscondes de Barbacena (Oliveira Horta Caldeira Brandt).
Foi adquirido, em meados do século XIX, pelo Cassino Fluminense, quando os clubes dançantes estavam na moda. Ganhou destaque por ser frequentado pela alta sociedade e pela Família Imperial. Em 1854, foi reformado pelo arquiteto Luís Hoske, que o transformou num prédio de dois pavimentos com linhas neoclássicas e interior luxuoso, no qual se destacava o salão de baile. Em 1900, lá se instalou o Clube dos Diários.
Em 1924 passou a sediar o Automóvel Club do Brasil e, em 1964, foi palco do último discurso do presidente João Goulart antes do golpe militar.
Em 2008, a Prefeitura lançou um edital para a ocupação do imóvel por um Club de Jazz – com biblioteca virtual, bar com ambientes de época e um espaço de memória. A proposta vencedora, entre as sete apresentadas, previu um investimento de R$ 28 milhões na recuperação do imóvel, a ser reinaugurado em 2009 . Porém, nada foi adiante.
Durante o meu mandato de vereadora e enquanto presidente da Comissão Especial de Patrimônio, solicitei autorização para que a nossa equipe entrasse no prédio para uma vistoria. Recebemos o retorno que somente o secretário Municipal de Cultura poderia autorizar a entrada. Por meses tudo foi bloqueado ao acesso e à informação.
Antigo Instituto de Eletrotécnica e a Escola de Comunicação da UFRJ
Mais um prédio histórico, localizado na Praça da República, esquina da Rua Visconde de Rio Branco, no Centro, onde já funcionou o Instituto de Eletrotécnica e a Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Outro exemplo da precariedade e da falta de conservação de uma obra arquitônica imponente.
Para o local já foi cogitada uma recuperação a partir de uma parceria com a universidade para a implantação de um centro cultural sobre a história da energia elétrica no Brasil. Mas não saiu do papel.
O Instituto de Eletrotécnica funcionou naquele prédio a partir da década de 1930 até 1960, quando houve a transferência da Escola Politécnica para a Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, no subúrbio. Para lá também foi transferido o Instituto de Eletrotécnica.
Símbolo de história do Rio, no imóvel, eminentes professores tiveram um papel fundamental na história da eletricidade no Rio de Janeiro e formaram inúmeras gerações de engenheiros eletricistas. Hoje, apenas moradores de rua ocupam o local para comer e dormir. Os invasores costumam acender fogueiras, quando está frio, ou fogareiros para esquentar comida, o que aumenta o risco de um incêndio.
Ao mesmo tempo em que os terrenos da cidade estão se valorizando e existe uma ideologia de que a cidade deve se renovar com as obras que estão por vir, é preciso que não esqueçamos o nosso passado. O Rio é o que é por conta dos símbolos da evolução histórica da cidade. E, preservar a nossa história é mais que uma reverência ao passado; é uma certeira aposta no futuro.
Vamos fazer uma campanha para a restauração do prédio na praça da República, esquina com Rua Visconde do Rio Branco ( antigo INSTITUTO ELETROTÉCNICO E ESCOLA DE COMUNICAÇÃO DA UFRJ) e transformá-lo no CENTRO DE ENERGIAS ELÉTRICAS E RENOVÁVEIS DO BRASIL.
O prédio é lindo com uma arquitetura normanda ( acho eu. Por favor, me corrijam os arquitetos).
Ultimamente, tenho sentindo tanto angústia quanto da minha passagem aos prédios públicos do centro da cidade, o que faz ficar de cabeça pra cima um bom tempo apreciando a arte arquitetônica em toda a sua plenitude. Não consigo conceber que os Organismos, as Instituições e os Conselhos que são ligados a questão urbanística e arquitetônica não tomam nenhuma medida junto aos órgãos públicos para se dar um ponto final as barbaridades da omissão e do abandono dos quem detêm a responsabilidade de cuidar e de preservar um Bem Patrimonial, pois, que não haverá um outro igual. Ninguém fala ou comemora o nome desses projetistas, que em sua maioria, foram os estrangeiros que nos deixaram a beleza de sua arte. É asfixiante, olhar os espigões “modernos”, frios e nascidos mortos.
Parabéns Sonia Rabello.
Revoltante ver o nosso patrimônio abandonado. Infelizmente uma realidade presente em todo o Brasil.
http://rafaeldantasbahia.blogspot.com.br/2013/05/demolindo-propria-historia-o-descaso.html