Autódromo na Mata Atlântica: um articulado projeto fundiário

Não é compatível com a preservação da Mata Atlântica de Camboatá, em Deodoro, na Zona Oeste do Rio, a construção, no local, de um novo Autódromo.

Essa foi a conclusão a qual chegaram os participantes do Seminário “Alternativas para o Autódromo e Preservação da Floresta de Deodoro”, realizado nesta terça-feira, dia 11, no Clube de Engenharia, no Centro do Rio.

O mais estranho é que nenhuma das “autoridades” que se dizem responsáveis por este projeto de destruição florestal compareceu ao evento para defendê-lo ou mesmo para dar qualquer informação ou satisfação aos presentes. Aliás, como era de se esperar…

E quem são essas autoridades públicas que querem acabar com a Mata Atlântica em Deodoro?

Basicamente três: a União Federal, através do Ministério dos Esportes, que dará os milhões de reais para a obra do novo Autódromo (R$ 150 a R$ 200 milhões), e que também pagou o projeto de viabilidade do mesmo. E o Ministério da Defesa que, através do Exército, fez a venda desse bem público federal, em Reserva de Mata Atlântica, para o Estado do Rio de Janeiro.

O projeto de viabilidade foi pago à Fundação Getúlio Vargas do Rio, contratada com dispensa de licitação (obviamente), para mais esse serviço. O pacote de contratações de projetos olímpicos da FGV, sem licitação, já era da ordem de R$ 12 milhões em 2010, conforme notícia.

O Governo do Estado é responsável, através do Instituto Estadual de Meio Ambiente (Inea) por dispensar o Estudo de Impacto de Ambiental para tal empreendimento. O Estado do Rio de Janeiro também é responsável pela obra, já que teria adquirido o terreno do Exército.

A Prefeitura do Rio é responsável por demolir o Autódromo de Jacarepaguá, construído com dinheiro público, em área pertencente ao poder público – na beira da Lagoa de Jacarepaguá.

A prefeitura do Rio, nessa incrível parceria com o Estado e com a União, fez o seguinte projeto que é um devaneio de “inteligência e brilhantismo”:

a) Demole-se o autódromo público pronto, em uma área pública hiper valorizada;

b) Cede-se esta área pública a um consórcio de empreiteiras privadas, para construção de dezenas de prédios residenciais e comerciais, com um discurso de parceria-público privada. As empreiteiras colocarão a infraestrutura no local, que servirão para seus próprios prédios.

c) Constrói-se aí parte de um Parque Olímpico que, após 2016, será parcialmente demolido para ceder o local às empreiteiras que colaboraram na infraestrutura. O Parque Olímpico será construído com dinheiro público – estimado hoje em R$ 580 milhões, do Ministério dos Esportes (nem um centavo privado) e,depois, repita-se, será parcialmente demolido. O restante que fica servirá com área pública ao conjunto de prédios privados!

d) Com o autódromo demolido, propõe-se que esse seja reconstruído em outro local, também com dinheiro público do Ministério dos Esportes, estimado em não menos de R$ 200 milhões. Para tanto escolheram a dedo uma área única e especial – a última reserva de Mata Atlântica de baixada do Estado do Rio de Janeiro!  Afinal, ela não poderia ser vendida a uma imobiliária mesmo….

A pergunta que não quer se calar:  por que estas mentes brilhantes não deixaram o autódromo inteiro aonde estava, a custo zero, e já pago, e não construíram o Parque Olímpico em Deodoro, com os quase R$ 1 bilhão que serão disponibilizados pelo Ministério dos Esportes, com construções olímpicas que depois serão demolidas?

Os moradores de Guadalupe, Ricardo de Albuquerque, Deodoro e Anchieta ficariam bastante felizes com um parque olímpico no local.  E nada precisaria ser demolido !

Cherchez l´argent…

Leia também o post do SOS Autódromo.

Você pode gostar...

4 Resultados

  1. Vou tomar meu remédio pra pressão!

  2. Estou muito triste com esta situação. Sou veterinário, pós graduado em educação ambiental e aficcionado do automobilismo. Foi uma covardia, o que os governantes fizeram, em prol de um evento. Concordo plenamente com a afirmativa, que concorda com o retorno do autódromo Nelson Piquet onde estva e a preservação do espaço da mata atlântica com o bioma rico em Deodoro. A SOLUÇÃO ESTÁ NAS MÃOS DO MP.
    O ESTUDO DE IMPACTO, SE FOR HONESTO, DARÁ VITÓRIA AO MEIO AMBIENTE EM DEODORO E MAIS: DEVERIA PUNIR OS RESPONSÁVEIS POR DECRETOS INCONSTITUCIONAIS, FAZENDO RETORNAR O AUTÓDROMO NELSON PIQUET E CANCELANDO A VENDA PARA AS EMPREITEIRAS. Outra saída, seria escolher com mais calma, UM espaço, como possÌvelmente Guaratiba, ou fazer circuito de rua , assim como os EUA fizeram durante anos, até construir um definitivo, como foi feito recentemente. É importante observar, que o autódromo, não serve apenas para corridas. Aulas de motoristas profissionais; testes, como o INMETRO pretende implantar no momento, e, outros eventos. Não consigo acreditar que nenhum prefeito tenha pensado em tombar nosso autódromo, projetado com tanto carinho e palco de tantos eventos importantes. A vila autódromo deve ser retirada sim, porque foi invasão e displicência da fiscalização.Resumo: toda a atenção na apresentação do EIARIMA deve ser prestada e contestada em seus mínimos detalhes. O momento é de extrema importância para o destino do parque de Deodoro. Cidadania acima de tudo. Todos os moradores interessados devem lutar por aquele espaço, sem medir esforços. Assinei a petição pública e pretendo colaborar também com outras atitudes em favor, não só dos animais como também da flora existente em Deodoro, transformando em um lindo e vitorioso parque, mostrando a todos a luta que foi travada em prol do meio ambiente.

  3. Alexandre Lannes disse:

    Resposta: É pq ali onde está, as construtoras têm interesse. Já institucionalizaram a mudança de Jacarepaguá para Barra da Tijuca. O parque olímpico da Barra, fica dentro do Autódromo de JPA… vai entender. Com tanto dinheiro voando, precisam justificar gastos e mais % por baixo dos panos. Quanto mais obras, melhor. Em Londres, resolveram valorizar áreas menos nobres e que careciam de urbanização… construiram o segundo mais shopping da europa e a vila olímpica. Aqui… metem essas porcarias onde não precisa, mas é do interesse dos “parceiros”. Município de merda, com vereadores envolvidos, um Prefeitinho “mais do mesmo” que vai com a onda como qq um, um governador suspeitíssimo e cheio de envolvimentos e nós, o gado. O que importa pro cidadão médio? “To vendo obras”. E assim, bandidos como os que governam (?) o nosso município e estado, ficam rindo em jantares na europa com empreiteiros e etc. O autódromo? Que se dane… passaram para o problema pro governo federal… que não tá nem ai. O autódromo atrapalhava a área que essas construtoras queriam. Tão feio quanto, é o caso do campo de golfe, velódromo e por ai vai. E os dois bandidos (e mais alguns vereadores) foram reeleitos em primeiro turno. É de envergonhar qq pessoa que pensa.

    • O mesmo ocorre com relação à construção do CAMPO OLÌMPICO DE GOLF, em Guaratiba. Certamente existe interesse imobiliário de expansão, daí “inventam” essas obras.
      Resta ao Ministério Público, haja vista que os representantes ambientais não se manifestam e a sociedade civil é ignorada, fazer alguma coisa.
      Essa questão de Deodoro é criminosa, fere o Meio Ambiente e os Principios Constitucionais de Economicidade, Moralidade, Probidade Administrativa, Eficiência, Eficácia e tantos outros…..

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

pt_BRPortuguese
pt_BRPortuguese