Tijuca – Praça Saens Pena, a Cinelândia da Tijuca

Na década de 1820, o que hoje é a Praça Saens Pena era um inexpressivo largo, que ficava próximo à antiga Fábrica de Chitas. Por essa proximidade chamava-se Largo da Fábrica, primeiro núcleo de urbanização do bairro, ponto de confluência de dois caminhos: o do Andaraí Pequeno (atual Rua Conde de Bonfim) e a Travessa do Andaraí  (atual Rua Desembargador Isidro).

Em 1911, o Largo da Fábrica ganhou um projeto paisagístico de inspiração francesa, e foi, oficialmente, alçado à categoria de praça pelo prefeito Bento Ribeiro. Seu nome, tão incorporado à  história da cidade, é uma homenagem aos presidentes da Argentina Luis Sáenz Peña  e Roque Sáenz Peña.

Daí por diante, a nova praça cumpriu a função de toda praça que se preze desde a ágora grega: a de ser o ponto de encontro dos cidadãos. Nos domingos, o seu coreto animava-se com as apresentações da banda marcial  e de teatro de fantoches.

Tornou-se o coração do bairro. Um coração que, diga-se de passagem, começou a bater mais forte quando, em 1909, ali foi inaugurado o Cinema Tijuca. Sua vocação como centro de exibição cinematográfica foi-se revelando com o surgimento de uma série de salas de  cinema “de rua”, todas situadas na Rua Hadock Lobo: o Pathé Cinematográfico (1907-1909), o Cinematógrafo (1907–1909), o Royal (1909), Íris (1909–1910), o Central (1909-1912), o Velo (1910), e o Hadock Lobo(1910), que sucedeu ao Royal. O Cinema América, na Rua Conde de Bonfim, foi inaugurado em 1918, tendo sido  reformado e reinaugurado em 1933.

Ali estava o embrião do que mais tarde se chamaria a “Cinelândia da Tijuca”, que, ainda na Hadock Lobo, ganhou o Avenida (1919), o Madri (1954), com 1800 lugares, e o Comodoro (1967).

Em 1947, a Praça Saens Pena  passou por reformas, e um novo  projeto paisagístico  dotou-a de um chafariz,  calçamento com desenho português, plantas ornamentais e árvores frondosas. Essas reformas  propiciaram a  maior acessibilidade de freqüentadores e, portanto, uma nova dinâmica urbana. 

Nas duas décadas seguintes, surgiram novos cinemas:  Eskye ( 1956), Art Palácio Tijuca (1960),  Britânia (1962), Studio Tijuca, Cine Rio (1965) e o Bruni (1968). Assim, no início da década de 1970, a Tijuca, dispondo de 14 cinemas, consagrava-se como bairro que abrigava um dos maiores números de salas de exibição cinematográfica do Rio de Janeiro.

Porém, ao longo da década de 1970, tudo isso mudou, quando os cinemas de rua começaram a desaparecer para dar lugar aos shoppings centers, bancos e lojas de departamentos: o primeiro deles foi o Olinda (1972), em seguida, o Metro (1977) e o Studio Tijuca (1981).

O golpe fatal adveio com as obras do metrô  (1976 a 1982), que descaracterizaram, de maneira truculenta, esse ponto de encontro e referência simbólica do bairro e da cidade. Além disso, a concentração do trânsito de veículos na Rua Conde de Bonfim contribuiu para fazer da praça um corredor de transportes.

No mesmo período, seu comércio recuperou-se, o que determinou uma vertiginosa valorização imobiliária e, portanto, uma forte tendência ao adensamento.

Hoje, a “Cinelândia da Tijuca” não existe mais. Embora tenha perdido muito de sua centralidade, ao se esvaziar como local de lazer, a Praça Saens Pena mantém seu papel simbólico no coração dos tijucanos e no imaginário da cidade.

Publicado na revista Rota Tijucana, setembro/2011

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