Tijuca, um Celeiro da Educação Carioca
Se há, na cidade do Rio de Janeiro, um bairro que se destaca por sua importância cultural, somada à tradição educacional, este bairro é a Tijuca.
Nesta publicação, a Praça Saens Pena foi tema de dois artigos nossos por seu sentido sócio-cultural ímpar ao se constituir, ao longo dos anos, apesar das transformações urbanas radicais, uma referência para os habitantes do bairro e da cidade.
Assim, se ela, durante muitos anos, foi chamada de Cinelândia da Tijuca, podemos dizer que o bairro em si constituiu e constitui um Celeiro da Educação carioca.
A lista de instituições de ensino, situados no bairro, é marcada pela quantidade e pela qualidade, além de fazer parte da história e do imaginário de uma infinidade de cariocas.
Portanto, não pretendemos esgotá-la, mas apenas nos referirmos a algumas e, ao fazê-lo, estaremos implicitamente mencionando esse raro conjunto.
O Instituto de Educação foi inaugurado, em 1880, como Escola Normal do Município da Corte. No início, sem sede própria, funcionou em vários prédios, sendo o primeiro deles o Colégio Pedro II, na Rua Larga (atual Av. Marechal Floriano).
À frente de sua criação estavam três grandes educadores: Fernando de Azevedo, Lourenço Filho e Anísio Teixeira. A escola formava professores de todo o país e, dada sua importância, seus criadores convenceram o prefeito Antônio Prado Júnior a dotá-la de sede própria. Convencido, o prefeito adquiriu, em 1927, o terreno da Rua Mariz e Barros e, em concurso público, foi escolhido o projeto, em estilo neocolonial, dos arquitetos Brunhs & Cortez, concluído em 1930.
Em 1932, o trio de educadores e criadores da escola pleitearam a mudança de seu nome para Instituto de Educação. Primeiro diretor do Instituto de Educação, o professor Fernando de Azevedo implementou novas diretrizes e adaptou a escola às exigências dos novos tempos.
Em 1998, com a nova Lei de Diretrizes e Bases, que prevê a formação do professor de 1ª à 4ª como ensino superior, o Instituto de Educação foi transformado em Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro. No mesmo ano, foi instituído o CAP/ISERJ – Colégio de Aplicação, que oferece Educação Infantil (Creche e Pré-Escolar), Ensino Fundamental (1ª à 4ª séries/ 5ª à 8ª séries) e Ensino médio (Formação Geral e Informática). O CAP/ISERJ oferece também cursos de Informática, Oficinas de Artes e Esporte.
O Colégio Militar é outra instituição educacional centenária situada na Tijuca. A proposta de sua criação data de 1853 e foi feita pelo então senador do Império, Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias, que se preocupava com os “filhos daqueles que morrerão ou se inutilizarão no campo de batalha defendendo a independência e a honra nacional”.
Porém, a ideia não se concretizou. Foi somente a partir de 1888, quando Thomaz José Coelho de Almeida assumiu o cargo de Ministro da Guerra, que a criação do Imperial Colégio Militar começou a se tornar uma realidade.
No ano seguinte, o palacete da Baronesa de Itacurussá, chamado Palacete Babilônia, situado à esquina das ruas São Francisco Xavier com Barão de Mesquita, foi adquirido para se tornar sede do Colégio Militar, que iniciou suas atividades em 6 de maio de 1889. Desde então, o antigo Palacete da Babilônia – que, em 1978, ganhou a designação histórica de “Casa de Thomaz Coelho” – constitui um centro de educação cuja tradição, renovada ao longo dos anos, soma-se a outras conceituadas instituições que fazem da Tijuca um bairro-referência na educação.
Na Tijuca está também uma das sedes do Colégio Pedro II, o segundo mais antigo colégio em atividade no país, sendo o Atheneu Norte-Riograndense o mais antigo. Datando do período regencial, o Pedro II fazia parte de um projeto civilizatório mais amplo do império brasileiro, que incluía o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o Arquivo Público do Império. Em seu projeto educacional sempre esteve presente o objetivo de formação de quadros políticos e intelectuais para os postos da alta administração, principalmente pública.
Sua primeira sede situava-se na antiga Rua Larga (atual Av. Marechal Floriano), e a sede tijucana foi inaugurada, em 1858 como internato, onde permaneceu até 1888, quando suas dependências foram transferidas para o Campo de São Cristóvão.
Até a década de 1950, o Pedro II era considerado o “colégio padrão do Brasil”, e o seu programa de ensino o modelo dos programas dos colégios privados de todo o país. Devido à grande demanda de inscritos em seus concursos, a instituição necessitou ampliar o número de vagas para matrículas. Por essa razão, em 1957, foi inaugurada a Seção Tijuca (1957).
A tradição de excelência em educação da instituição foi reconhecida pelo Governo Federal Brasileiro em 1998, quando o colégio recebeu o Prêmio Qualidade por seu projeto de Qualidade Total na área de Educação.
E o que contar sobre o Instituto Lafayette? No dizer do blogueiro Felipinho, o instituto, criado em 1916 “já começou inovando”, tendo sido “o primeiro colégio carioca a preparar os alunos para trabalhos de oficina e laboratório, ou até mesmo para os campos de agrimensura e topografia, química industrial, mecânica, e eletricidade prática. As meninas procuravam os cursos de datilografia e estenografia”.
Situado à Rua Haddock Lobo sua sede principal foi, originalmente, residência do Barão de Mesquita (1826-1886), filho do Conde de Bonfim (1790 – 1873). Nela estudavam os rapazes, e as moças na da Conde de Bonfim que, anteriormente, fora sede do Clube Tijuca. E, antes do Clube, foi residência do Duque de Caxias.
Nos anos 1970, essa sede foi destruída por um incêndio e, depois disso, ali foi instalada a Mesbla. Nos anos 1980, a suntuosa sede masculina foi transformada em Fundação Bradesco.
O Colégio Batista é também conhecido como Colégio Batista Shepard em homenagem ao seu fundador, o Doutor John Watson Shepard. Fundado em 1908, possui uma área de 20.000 m², pertencentes à antiga Chácara do Trapicheiro, do Barão de Itacurussá, genro e herdeiro do Conde de Bonfim. Esse velho solar, sede do colégio, encontra-se inteiramente preservado.
Esse notável conjunto prima não só pela excelência de seus programas, que lhes confere reputação, mas também por, grande parte deles, ter mantido suas sedes preservadas, o que caracteriza a manutenção de um patrimônio intelectual, histórico e arquitetônico.
Sobre a memória da Tijuca, confira este interessante blog.
Publicado na revista Rota Tijucana – novembro/2011