Um breve histórico dos transportes em Jacarepaguá

Neste artigo, Helena W., antiga moradora de Jacarepaguá, na Zona Oeste, com grande envolvimento nas questões do bairro, faz um detalhado levantamento das mudanças ocorridas nos últimos anos no trânsito da região e relata os diversos transtornos diários enfrentados por milhares de cidadãos.

Enquanto a população cresceu de forma vertiginosa, o planejamento não acompanhou essas mudanças. Hoje, a realidade do bairro é marcada por longos congestionamentos, deficiência no atendimento da demanda e uma precária reserva de opções de linhas e trajetos que facilitem o ir e vir. “Identificamos a elitização dos transportes públicos e, como consequência, os impactos que estas decisões provocam em outras espaços urbanos.”, afirma, acrescentando que hoje, “Jacarepaguá é um bairro ilhado”.

“Farei um breve relato dos problemas de transporte em Jacarepaguá, mas especificamente na Freguesia, Anil e adjacências. Vim para Jacarepaguá com dois anos de idade e conheço mais do que ninguém todos os gargalos e questões que envolvem o transporte na região.

No bairro haviam bondes que foram descontinuados para favorecer os empresários de ônibus, fazendo com que a população acreditasse que essa era a melhor opção. Por causa da influência que eles tinham e continuaram tendo entre os grupos que se revezam no poder na Cidade do Rio de Janeiro, os moradores de Jacarepaguá e de outros bairros da Zona Oeste foram obrigados a utilizar o transporte coletivo como transporte de massa.

A empresa se instalou no bairro há cerca de setenta anos, mas pouco contribuiu para o progresso de Jacarepaguá. A população, ao longo dos anos, aumentou de forma vertiginosa. Os sítios da Freguesia deram lugar a prédios com vários blocos de cerca de sessenta unidades cada um. Mas o estigma de famílias de classe média alta permaneceu e, por isso, a população atual ainda sofra com a extorsão em todos os níveis. Os preços dos serviços são altos e o retorno é mínimo.

Quando comecei a trabalhar, viajava pendurada nos ônibus na subida da Serra Grajaú-Jacarepaguá, pois os ônibus que subiam a Serra vinham de bairros adjacentes. Os que faziam ponto na Freguesia iam por Cascadura, Piedade, Méier e levavam quase duas horas para chegarem ao seu destino, o Centro da Cidade.

Os ônibus originam-se de carroceria de caminhão, apresentam precário acesso para as pessoas com dificuldades de locomoção. As pesquisas apontam aumento da população de idosos e de obesos. Por isso, uma das solicitações das manifestações de rua denominava-se a revolta da catraca.

Passamos por várias etapas de melhoria da mobilidade urbana. A primeira foi a duplicação da Grajaú-Jacarepaguá. Os grandes eventos ocorreram, em boa parte, no Centro e na Zona Sul. A melhoria sempre visava a classe mais rica da população.

A ponte Rio-Niterói facilitava o acesso à Região dos Lagos. O metrô saindo da Tijuca e chegando ao Centro da Cidade, e depois estendendo-se à Zona Sul. Depois de cinquenta anos vimos a disputa para levar o metrô até a Barra da Tijuca, onde reside outra parcela da população mais privilegiada. Aguardamos, com paciência que o transporte de masse alcance a Zona Oeste.

Neste breve relato já identificamos a elitização dos transportes públicos e, como consequência, os impactos que estas decisões provocam em outras espaços urbanos.

Como não podemos viver nas áreas mais nobres da Cidade, sugeri à classe política que apoia o Fórum Permanente de Mobilidade Urbana uma compensação financeira que faça jus à precariedade dos transportes na Zona Oeste do Rio de Janeiro, até que sejamos agraciados com um transporte de qualidade.

O meu envolvimento com as dificuldades do transporte vem de muito longe, muito antes dos movimentos de rua que eclodiram de junho até os dias de hoje. Os argumentos que usei foram o aumento desproporcional na quantidade de habitantes da área e nenhum investimento em qualidade nos transportes da região.

Uma colega de trabalho acidentou-se dentro de um ônibus na Tijuca, depois que um motorista deu a famosa “freadinha”. Ela quase voou pelo para-brisa e foi submetida a várias cirurgias. Ficou afastada do trabalho por seis meses.

Alguns motoristas apresentam alto nível de estresse, provavelmente com a “imobilidade urbana”. Muitos não demonstram ter condições de lidar com a população, são grosseiros, não param nos pontos determinados, principalmente à noite, quando eles estão mais cansados e irritados, mesmo que o passageiro tenha apertado a campainha, o que não acontece com os motoristas das vans, que precisam dos passageiros para o sustento.

Foi divulgado na mídia que uma mão invisível deflagra solução emergencial quando a prestação de serviço não consegue alcançar o objetivo a que se destina. Foi neste momento que surgiram as vans, para que oferecessem qualidade de vida os usuários que aguardavam nos pontos por tempo indeterminado e que andavam imprensados nos transportes coletivos.

Uma fiscalização punitiva passou a incidir sobre os serviços de vans ao longo da via para coibir essa modalidade de transporte, mas nunca se viu fiscalização no transporte coletivo mesmo que as irregularidades desse tipo de transporte sejam evidentes.

Não é possível que uma população heterogênea como a do Rio de Janeiro seja submetida à essa tortura que os empresários e políticos empurram goela abaixo.

Os moradores dos bairros que compõem a Baixada de Jacarepaguá – Cidade de Deus, Freguesia, Anil, Jardim Clarice, Gardênia Azul, Pechincha, Taquara, Vargem Pequena, Vargem Grande, Praça Seca e Valqueire somam quase um milhão de habitantes, segundo o censo de 2010, divulgado pelo IBGE.

A essa população enorme é oferecida uma única empresa de ônibus da mesma família – Redentor, Barrinha e Litoral. As outras são as empresas Vera Cruz – Freguesia – Caxias e as que atuam na Taquara .

Temos direito ao transporte de massa, mas o assunto fica à critério dos empresários e dos políticos que novamente nos obrigam a enxergar o modal rodoviário, agora com a alcunha de BRT, como a melhor solução para a região. Todos sabem que não é.

Já matou cerca de dez pessoas desde que foi implantado na Barra da Tijuca e matará outros tantos em Jacarepaguá. O transporte de alta velocidade deve ser isolado, o que não acontece com o BRT. Homens, mulheres, crianças e ônibus em alta velocidade acabam se esbarrando num mesmo plano. Isso é que faz o metrô, um transporte de alta velocidade, correr por via subterrânea.

Os engenheiros desenvolveram diversas opções de transporte para o bairro que nunca saíram do papel, pois os políticos optam por privilegiar as empresas de ônibus.

Os projetos são, por exemplo, o trem suspenso ; a linha 4 do Metrô e o transporte aquaviário. Os trens antigos do metrô estão estragando no tempo depois da aquisição dos novos trens oriundos da China.

Jacarepaguá é um bairro ilhado. Se há qualquer acidente no Grajaú ou na Tijuca, os reflexos são imediatos na Grajaú-Jacarepaguá e a população perde cerca de 50 minutos na Serra para chegar até a Teodoro da Silva em Vila Isabel.

Os moradores que possuem carro e optam pela Linha Amarela são obrigados a pagar um preço extorsivo de R$ 5 na ida e R$ 5 na volta. Ao funcionar nos limites da Cidade o pedágio derruba o conceito de que deve ser implantado entre cidades e não entre bairros.

Há cerca de vinte anos, as empresas divulgaram que havia um índice que determinava o intervalo de ônibus na Serra Grajaú-Jacarepaguá para que o trânsito pudesse fluir sem dificuldades, por isso os ônibus obedeciam a esses intervalos. Esse conceito não é mais respeitado.

A empresa que atua na área reduziu a oferta desses ônibus de preço R$ 2,75 e passou a oferecer mais `frescões´, para auferir maior lucro e extorquir a população.

Isso ocorre porque o estigma de bairro de classe média alta ainda persiste e, por isso, os moradores pagam mais caro do que outros que vivem em outros bairros.

A verdade é que os nobres que residiam nos sítios que existiam no passado em Jacarepaguá já não existem mais. Muitas famílias abastadas deixaram o bairro justamente pelas dificuldades diárias de acesso e precariedade dos transportes.

Os `frescões´ são confortáveis e alguns são bem gelados. As pessoas reclamam que a demora pode fazer com que as elas queiram usar o toilete, principalmente as que fazem uso de remédio e necessitem ingerir líquidos pela manhã. Os equipamentos de segurança não evitam os assaltos que voltaram a acontecer. Os passageiros não se sentem protegidos e pagam um preço extorsivo pelo serviço.

Na época dos manifestações todos os valores retornaram para $ 2,75, mas os `frescões´ que custavam R$ 10 (Freguesia) e R$ 12 (Praça-Seca) não retornaram aos antigos. Hoje o preço é de R$ 11 (Freguesia) e R$ 13 (Praça-Sêca). Por que temos que pagar preço tão alto ?

Os ônibus comuns, às vezes, estão sujos e não possuem bagageiros. Os que deles se utilizam colocam seus pertences no chão.

As crianças se arrastam por baixo da catraca. Os idosos, obesos e pessoas que precisam carregar volumes têm muita dificuldade para passar nas roletas, além disso, o critério na disputa pelo assento é de certa forma subjetivo e obedece a foro íntimo.

É fato que a decisão sobre quem merece o assento, em muitos casos, não é a mais justa.

Os mecanismos de acessibilidade para transporte de pessoas com deficiência ou problema de mobilidade funcionam. Os motoristas param e descem para ajudar os acompanhantes, mas os passageiros que se dirigem ao trabalho perdem muito tempo, principalmente os que batem ponto.

Deveria haver uma passarela ou viaduto na altura do Hospital Geral de Jacarepaguá, Cardoso Fontes, para facilitar o acesso de idosos e pessoas adoentadas que precisam fazer uso dos transportes e atravessam a via com muita dificuldade.

Nós somos obrigados a aceitar que a empresa conceda livre acesso aos vendedores ambulantes que entram nos ônibus e oferecerem produtos que não é dado a conhecer a procedência. Não se pode chamar o serviço de transporte público. É um transporte privado com custo elevadíssimo para a população em geral, mas, principalmente para os moradores da Zona Oeste.

Atendendo aos próprios interesses, empresários e políticos que não representam a vontade da maioria, fecham-se aos clamores da população. Não é por acaso que os protestos que ocorreram na segunda metade do ano iniciaram-se com o movimento do passe livre e a eles se somaram todas as outras reivindicações que permaneciam atravessadas na garganta do carioca e dos brasileiros. A escravidão moderna é promovida pela poder econômico implantado no país.

Depois de todo esse relato, gostaria de sugerir que houvesse um transporte mais humano e digno no bairro. Foi divulgado no ano passado que haveria um `Censo dos Transportes que procuraria estudar o fluxo de origem e destino dos moradores para oferecer transporte ponto a ponto com rapidez e segurança, visando o bem-estar dos que contribuem para a economia do país´.

Mas isso os empresários não querem porque é mantendo o serviço precário e ineficiente que eles enriquecem, e os que enriquecem às custas do transporte rodoviário fazem uso de helicóptero e passam a ignorar as reais necessidades da população.

Por que não temos ligação com todos os bairros ? Por que não temos Integração ônibus-Metrô ? Será que nós, moradores de Jacarepaguá, seremos oferecidos ao sacrifício para que os recursos sejam sempre utilizados no mesmo espaço urbana ?

O Centro da cidade já é privilegiado com diversos modais de transporte, em breve circulará o Veículo Leve sobre Trilhos – VLT, mas, nos bairros da Zona Oeste a luta é pela qualidade de vida e por um maior convívio com os entes queridos. O transporte separa laços de família e de amizade dos que partem em busca de conforto numa área privilegiada com transporte de massa.

Se o bem-estar só pode ser observado em determinados pontos da Cidade, pode-se afirmar que há “exclusão social” em relação ao transporte.

Por esse motivo, convoco os membros do Fórum Permanente de Mobilidade Urbana da Região Metropolitana da Cidade do Rio de Janeiro, a Associação de Defesa dos Usuários de Transporte – ADUT-RJ, os membros da Associação dos Moradores da Freguesia – AMAF e os vizinhos e amigos de longa data que se deslocam diariamente em direção ao Centro da Cidade, Zona Sul e adjacências, a se mobilizarem a favor da qualidade de vida lutando pela melhoria na mobilidade urbana, cobrando dos atuais representantes a conquista de um transporte de massa, implantação do transporte funcional e investimento imediato nos transportes coletivos.

Só poderemos avançar nas conquistas sociais com muita mobilização. Avante companheiros !”

Helena W. 

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7 Resultados

  1. como posso saber noticias sobre metrô em Jacarepaguá. Como posso divulgar esta ideia …. O que os politicos dizem?

    O Metro deveria chegar até a Alvorada na Barra e dela ir até a Urugguai, passando por um tunel debaixo da grajau-jacarepagua.
    Adicionaria mais robustez e contigencia a configuração atual e resolveria o problema da Freguesia. Abaixo sr Barata e políticos sem visão

  2. Estamos cada vez mais indignados com o aumento da passagem. Em Jacarepaguá somos prejudicados com o monopólio das empresas como a Redentor, a Litoral. Neste ano de 2015, nos surpreendemos com o aumento das passagens de R$ 3,00 para R$ 3,40. Os frescões, de R$ 12,00 para R$ 15,00. É um ABSURDO!!!!!
    Infelizmente não há Ministério Público, PROCOM, e outros Órgãos de Defesa do Consumidor que olhem pelos passageiros, pelos consumidores, que não não possuem outros meios de transporte. Os ônibus não têm qualidade, frequência e preços justos.
    Esperamos sempre que denúncias e demonstrações como a da Sonia Rabelo continuem divulgando esse DESGOVERNO !!!

  3. É um absurdo para quem mora na Freguesia e precisa pegar um ônibus indo em sentido a serra do Grajaú-Jacarepaguá. O Grupo Redentor tira a maioria dos carros e dependendo do local onde você estiver,é obrigado a pagar um táxi ou esperar a boa vontade do motorista do 561 ou 562 (Caxias – Freguesia e Caxias-Pau´Ferro respectivamente). É claro o apoio entre o tal Grupo e o nosso digníssimo PREFEITO,que tem ligação ao dono/sócio da maioria das empresas de ônibus aqui no Rj,Sr. Jacó Barata. Só pelo sobrenome já demonstra o tipo de pessoa que ele é. E em relação ao trânsito aqui na área,não sei o que é pior: sair com seu próprio veículo e ter um gasto bem maior com esse anda e para por conta dos engarrafamentos ou então economizar e andar de ônibus,mas sofrendo com o calor,sujeira,estresse de todos e principalmente,falta de ônibus necessária para a demanda.

  4. Sonia Rabelo descreveu com muita propriedade o drama dos transportes em Jacarepagua. Moro na Taquara, dependo dos onibus da Sta Maria, que tem uma frota de onibus velhos, sem conservaçao, o tempo de espera por uma conduçao chega a 1h30. Motoristas sempre mal humorados, mal educados, ja machucou muita gente, por arrancar com o onibus enquanto o passageiro esta descendo. Ouve-se falar que o dono da empresa atrasa muito o salario dos funcionarios. No mais e exatamente como ela descreveu. A populaçao de Jacarepagua cresceu assustadoramente sem infra estrutura.

  5. Juliana disse:

    A realidade dos nossos transportes públicos é lamentável e caótica.. Porque o governo quer empurrar algo “confortável e bonitinho”; sendo que por trás cobram taxas absurdas pelo serviço prestado. E fora, o temperamento dos motoristas.. dos passageiros.. quanto mais o governo insistir em decidir sem atender as necessidades do povo, essa realidade só tende a piorar com o crescimento populacional !

  6. Tudo que esta acontecendo com o transporte em Jacarepaguá é feito sob a “vista grossa” do atual Prefeito, Eduardo Paes, que para dar uma “ajudinha” a Redentor acabou com as Vans que faziam o transporte para fora do Bairro. E a população de Jacarepaguá é a principal responsável por isso, porque votou em massa nesse Prefeito e nos Vereadores que o apoiam. Não adianta ficar discutindo em comissões, etc…, se os principais interessados acreditam em “MENTIRAS” e votam nos seus “CARRASCOS”! É aquela velha história, não adianta ser um “LEÃO” nas ruas um ‘JEGUE” nas urnas! Temos que nos unir e votar em GENTE NOVA, que não estejam comprometidos até o pescoço com os carteis existentes!

  7. A Helena está sempre presente e atuante no Fórum de Mobilidade Urbana – RJ defendendo, principalmente, os interesses e anseios da população da região de Jacarepaguá. Avante Helena, estamos ao seu lado nessa luta.

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