A tristeza, e por que não dizer, a revolta, acompanharam a notícia do fogo que consumiu parte do prédio histórico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Campus da Praia Vermelha. Tristeza pela perda substantiva de parte de um ícone da identidade histórica da Cidade; revolta pelo sentimento de impotência cidadã ao assistir, mais uma vez, a destruição do nosso Patrimônio Cultural, por incúria de quem tem a obrigação legal de zelar por ele.
A UFRJ tem uma dificuldade imensa de cuidar do seu imenso patrimônio. Tem excelentes professores, mas que não conseguem administrar a própria universidade. Os últimos exemplos tem sido dramáticos: parte do hospital universitário foi implodido por permanecer sem uso por mais de 30 anos; outro hospital universitário seu, localizado em prédio histórico tombado pelo IPHAN – o Hospital São Francisco – embora em uso, está quase desabando por falta de conservação; seu prédio na Avenida Rui Barbosa, parcialmente reformado, encontra-se há quase uma década sem uso; o prédio do tradicional IFCS, no Centro é um escândalo de sujo e mal conservado; e agora, o fogo no antigo prédio da Reitoria. Isto é administração?
Enquanto isto, na área do Campus, obras milionárias de institutos tecnológicos financiados por empresas, como a Petrobras. Necessário, claro (…), mas nada para a conservação???
Além disto, a Reitoria fala em ceder, contra determinação legal, a área do antigo Canecão para nova casa de shows, depois de passar 40 anos em processo judicial para retomar o imóvel!
Há desídia também na fiscalização por parte do IPHAN. Os prédios históricos estão caindo há anos, e poucas providências de fiscalização e responsabilização são tomadas. Demora-se séculos para se realizar uma simples obra de conservação.
A incapacidade administrativa, a falta de prioridades, e a obsessão pela grandiosidade impedem o trabalho diário de organização, planejamento da conservação do patrimônio cultural.
Mas, a luz no final do túnel surge a partir dos movimentos comunitários. A Associação de Moradores do Jardim Botânico conseguiu decisão, ainda liminar, do Tribunal de Contas, que impede processo de apropriação privada do Jardim Botânico no Rio (unidade de conservação tombada, e invadida). E o Conselho dos Moradores da Glória – o COM-Glória, no sábado, promoveu, com voluntários, a limpeza e pintura de Chafariz secular destroçado pela falta de fiscalização e conservação.
A luta continua, e ela passa pela responsabilização daqueles que deveriam fazer, e não fazem. Esta, no entanto, está ainda começando, e é morosa. Mas parece ser o caminho da mudança, para quem a quer. É preciso insistir nele. Não desistir nunca.
Veja, para nosso pequeno consolo, um breve filme da limpeza do Chafariz da Glória, no sábado, dia 26, por integrantes do COM-Glória, no Rio.
Crédito: Thereza Eugênia