A “reinvenção” do Rio e a desigualdade social

Recentemente, o jornal americano “The New York Times” publicou uma matéria especial sobre as ações governamentais e as decisões “desorientadas”, na tentativa de se “reinventar um Rio de Janeiro antes da Copa do Mundo e das Olimpíadas”, acrescentando que as obras no Centro histórico da Cidade têm acentuado a visível desigualdade social.

Em um “tour crítico” pela “Cidade Maravilhosa”, a questão do planejamento foi alvo da crítica internacional, uma vez que as diferenças entre os investimentos recentes da atual gestão municipal e as demandas de infraestrutura e mobilidade urbana da Cidade são visíveis.

Além disso, nesta corrida de mudanças feitas na base do rápido e nem sempre bem feito (e sem discussão com os vários segmentos da sociedade), às vésperas de grandes eventos internacionais, o NYT destaca que esse cenário comprova os esforços das autoridades regionais para “reinventar” uma cidade que era do terceiro mundo, com uma economia de primeiro mundo, mas que os protestos populares mostraram problemas “intratáveis nesta cidade, onde a diferença de classe e a corrupção são quase tão imóveis quanto as montanhas. É uma cidade dividida”, destaca o texto.

A preservação histórica e as desigualdades

O NYT salienta também a falta de um plano governamental quanto à avaliação e garantia de preservação das zonas urbanas históricas do Rio, evitando o sacrifício “por um mar de torres de escritórios”.

Há poucas semanas, este blog comentou sobre o fato de o projeto inicial de “revitalização” da Região do Porto que deveria incluir, além das alterações em mobilidade urbana e na infraestrutura, a revitalização das moradias já existentes na região e a criação de novos complexos habitacionais, com o repovoamento da região. E a questão foi também levantada pelo jornal americano ao citar que “promessas recentes do prefeito para inserir 2.000 unidades de habitação pública são tardias e vagas, anunciadas para apaziguar detratores, enquanto não perturbam os investidores”.

A matéria diz ainda que ao mesmo tempo que ocorre a promoção da dita “revitalização” desta região, a Cidade o Rio cresce de forma descontrolada na Zona Oeste, acrescentando ainda a Vila Olímpica como exemplo de empreendimento que será valorizado com os grandes eventos, em detrimento de obras emergenciais.

Como bem disse  o fundador do Observatório das Favelas, Jailson de Souza e Silva,  em entrevista ao NYT, a participação da população nos programas do governo “é a chave” para a solução das disparidades sociais nestes locais.

Para nós, que vivenciamos e lutamos diariamente por uma participação nas mudanças na Cidade que é de todos, esta é a realidade nua e crua, conhecida e debatida há muito tempo.

Tentar “reinventar” sem planejamento e discussão é contribuir ainda mais para as diferenças de uma Cidade que há anos sofre e clama por mudanças reais e não paliativas. A esta altura, a política para “inglês ver” já está desgastada. Só não enxerga quem não quer a  quantas anda esse enredo. Basta um “tour”…

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2 Resultados

  1. Sergius disse:

    A informalidade patrocinada pelo governo aos seus eleitores de cabresto se mostra um excelente negócio. As isenções e bolsas demagogia distribuídas a esmo afastam o ignorante da possibilidade de exercer todos os seus direitos, pois estes são trocados por migalhas interesseiras, enquanto as isenções os desobrigam de seus deveres.
    Em um país, cujo percentual de imposto é o maior do mundo, todo o isento agradece penhoradamente, embora se veja sem o exercício pleno de seus direitos e deveres e se transforme em joguete, sem cidadania.
    Logo, as “comunidades” se revelam absurdamente vantajosas e hoje são objeto até de exploração por parte de milícias, que cobram criminosamente o que o governo isenta, também criminosamente.
    O morador desta comunidade acaba subjugadoseja oprimido pelo banditismo institucionalizado e pelo clandestino, sem o direito de reclamar, por não ser cidadão.
    De outro lado, o cidadão que paga impostos é bitributado, por não receber qualquer retorno deste imposto pago e, portanto, ainda é obrigado a desembolsar quantias enormes, para o pagamento de serviços privados de saúde, educação, segurança, transporte, etc.
    Assim, cria-se um abismo abissal, intransponível, entre uma pseudo elite sobrecarregada e ainda por cima odiada pelo pobre, que segue fanaticamente os discursos dos “donos” da nação, embora não passe de vítima clientelista desses mesmos mandatários.
    Enquanto isto, a verdadeira e única elite brasileira é a formada pelos privilegiados por um governo corrupto e corruptor, que flana em cargos públicos, à custa do erário.
    Ambos os lados deste abismo viverá tentando burlar o governo, enquanto este se beneficia com o imposto embolsado de um lado e o voto recebido do outro.
    Não é a toa que o santo do pau oco foi inventado aqui, ainda na época em que os impostos eram “o quinto”, ou APENAS 20% (vinte por cento)… Imagine o que acontece atualmente, quando nos deparamos com instituições falidas, um imposto de 46% (quarenta e seis por cento) e o septuagésimo segundo lugar no ranking dos países decentes, ao lado de republiquetas e dinastias tribais…

  2. Artigo brilhante, só falta mencionar que diversas politicas públicas foram esquecidas no últimos anos por imposições de orgãos financeiros internacionais(FMI, etc….), com apoio daa imprensas brasileira. Já que tinhamos que crescer o bolo e não podiamos fazer programa de ajuda aos menos favorecidos.. Hoje em dia nnguem cobra a extição do BNH, orgão que visava a construção de habitações populares(hoje em dia o deficit seria muito menor) mas a ganancia de empresário corruptos e junto com governos entreguista destruiram uma coisa boa para o povo.

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