“Pode-se construir muita coisa que não servirá”
Prudência e bom senso. Será que o Governo do Rio tem demonstrado? Qual o valor da conta que pagaremos? Como podemos deter o vandalismo que destrói, oficialmente, nosso patrimônio público?
Confiram a entrevista com o o urbanista português Nuno Portas sobre a preparação da cidade do Rio para 2016.
Entrevista publicada no jornal “O Globo”, em 19.06.2013
Por Ludmilla Lima
“Como o senhor avalia o momento atual da cidade, que se prepara para receber os Jogos Olímpicos?
Em Londres, já estão reaproveitando algumas áreas e espaços construídos para as Olimpíadas. Mas, no momento atual da crise econômica das cidades, da qual estas não podem fugir, é preciso ter algum cuidado, porque pode-se construir muita coisa que depois não servirá. E a reciclagem depois é cara.
O senhor participou de um projeto, no governo Luiz Paulo Conde, para a orla do Centro. Qual era o plano para a Perimetral?
Convencemos o município de que não valia a pena demolir. Porque um túnel também tem seus problemas. Por outro lado, tínhamos encontrado uma solução. A Perimetral ganharia uma espécie de proteção sonora dos carros em toda a sua extensão. Embaixo, teríamos bares com uma iluminação estudada em Barcelona, o que, à noite, daria vitalidade para a região.
Mas, agora, a Perimetral está sendo demolida.
O custo de botar abaixo é o mesmo de fazer um novo. Eu deixaria em pé e faria essa experiência (de revitalização).
Barcelona é um modelo para o Rio?
O Rio não tem muito que seguir o modelo de Barcelona. Ela foi uma das primeiras cidades da Europa a melhorar a qualidade urbana. Mas, com a crise, já não é a mesma coisa. O que Barcelona fez pode continuar sendo modelo. Agora, tenho dúvidas se ela inventará mais coisas nos próximos anos. Minha posição sobre as cidades não é pessimista; é prudente. O Rio tem que ser prudente. Mas isso é o mesmo que dizer a uma pessoa `não faça isso´, porque ela vai logo lá fazer.