Preservação de usos no Rio vai ter sucesso?
Você quer que o Rio tenha a sua identidade preservada? Se você está junto com esta turma, acredite, não é fácil! Mas também não é impossível, pois há meios e modos disponíveis. A questão é saber como usá-los.
A rejeição, pelo Conselho do órgão de Patrimônio Cultural do Rio – IRPH -, do projeto de construção de um prédio em cima do Cine Leblon não resolveu o imbróglio nem da preservação do cinema, nem do prédio onde ele se localiza. Apenas adiou o assunto e acalmou os ânimos dos prós e contras. E como sabemos que não resolveu?
Encontramos nossa resposta nos casos paralelos. Senão vejamos:
1. O fato do Cine Odeon estar localizado dentro de um prédio alto não assegurou a continuidade do funcionamento do cinema no local. Então, pergunta-se: a permissão de construção de um prédio no Cine Leblon assegurará, a médio e longo prazo o funcionamento do cinema? A resposta é não !
E por quê? Porque nada assegura, nem o tombamento, nem a APAC, a continuidade de um uso no local. Este é um problema de fomento à atividade e à sua localização, como acontece no Imperator, na Zona Norte do Rio. E para isso a cidade poderia ter um plano de incentivos para salas de cinemas. Mas não tem, apesar de querermos ser uma cidade pólo para atividades áudio-visuais.
2. Por que o tombamento do prédio onde fica um restaurante caríssimo no Leblon teria garantido aquela atividade? Não garantiu a atividade, pois o dono do negócio pode sair dali na hora se quiser. O tombamento apenas impediu que o proprietário do imóvel, que não é o dono do restaurante, vendesse o imóvel para uma imobiliária para que ali se construísse um prédio e despejasse o inquilino-restaurante. Foi um despiste.
3.Qual o exemplo mais claro e atual de que a proteção do imóvel não protege as atividades nele desenvolvidas?
É o caso das atividades comerciais tradicionais desenvolvidas na Rua da Carioca. Lá temos os tradicionais Bar Luiz, Guitarra de Prata, Loja Vesúvio, entre outros. A rua é preservada, pois está dentro da primeira APAC do Rio, o tradicional corredor cultural, marco da proteção de áreas urbanas desde a década de 80. Pois bem, recentemente um conglomerado financeiro comprou os imóveis do seu proprietário tradicional e, simplesmente, pediu o despejo das atividades tradicionais. Pode? Pode…
E aí, como preservar não só os prédios, mas também as atividades tradicionais? Desapropriando? Claro que não, pois a desapropriação apenas garante a mudança de propriedade e não a forma de uso!
O interessante no caso da Rua da Carioca é o fato de que, quando o Corredor Cultural foi instituído, a proteção do prédio, indiretamente protegeu os locatários dos imóveis que até hoje lá estão. E por quê? Protegeu-os simplesmente porque estavam ameaçados pela demolição da área para dar lugar a novos prédios. Com a proteção, os proprietários que iam vender os imóveis deixaram tudo como estava. É a hipótese similar à do restaurante no Leblon.
Portanto, três conclusões podemos apresentar:
a) Tombamento e APACs não preservam usos. Juridicamente, até o momento, inviável.
b) Sem um plano de fomento às atividades tradicionais, podemos dar adeus a alguns marcos da identidade carioca.
c) Tombamentos e APACs não prosperarão no seu efeito de preservar a identidade física da nossa cidade, sem um planejamento que implante instrumentos urbanísticos modernos que façam a “justa distribuição de ônus e benefícios do processo de urbanização”, como determina o inciso IX do art. 2º do Estatuto da Cidade. E em relação a esses instrumentos, ainda estamos cegos a eles, no Rio.
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Tombamento de uso de restaurante: é possível ?
O artigo enviado por Cecília Rodrigues, abaixo mencionado, é caso análogo, acontecido em São Paulo, em 2011. São Paulo é logo ali. Então, tudo parece despiste das autoridades, enganando os incautos! Ler o artigo postado no site do Vitruvius é importante. http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/11.040/3727
Uma análise perfeita!
Uma lição direta e sem floreios.
Cara Sonia
Como contribuição a mais esse importante alimentado por você, estou enviando a referência de um texto de minha autoria, “Em defesa do cinema Belas Artes”, publicado no site VITRUVIUS, em janeiro de 2011, por ocasião dos debates sobre tombamento do Cinema Belas Artes em São Paulo.
Abraços,
Cecilia Rodrigues dos Santos
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/11.040/3727
Fiquei comovido…nao sabia…q era…q funcionava assim…se tiver um jeito de ajudar…avise…faca parte…escreva tbm no grupo q montei…grajau pra todos…apareca…galvao q nao e bueno…