REALENGO CHORA E COBRA SEGURANÇA
Tribuna Parlamentar da Cidade é fechada
A tragédia que se abateu sobre a Cidade, e sobre o Brasil, com os homicídios de crianças na Escola Municipal no bairro de Realengo, na Zona Oeste do Rio, caiu como uma bomba nos meios de comunicação. Todos se voltaram para o fato e para a escola. Com razão, face ao caráter absurdo da tragédia que vitimou inocentes, e enlutou, para sempre, suas famílias. Um episódio que trouxe atenção, em um dia só, para um bairro que há alguns anos vem convivendo com a violência diária.
Do outro lado da linha do trem, neste mesmo dia, furiosos criminosos, armados até os dentes, balearam um trabalhador que voltava para casa, ao tentarem alvejar um carro que, em alta velocidade, não obedeceu a ordem de parar para ser revistado. Não deu na TV.
Todos os dias, e sobretudo fins de semana, há tiroteios nesta região tomada pelo crime, e que constrangem e ameaçam seus moradores. Um bairro tradicional do Rio, que já foi protegido pelo fato da existência do contingente militar que lá morava, e trabalha no quartel ali existente. Mas isso é passado.
Quem mora lá sabe que a realidade hoje é outra. Na Vila Vintém só entra quem o crime quer. Crianças já estão armadas, e as mães desesperadas. Muita arma e munição sem qualquer controle e ação do Estado.
Por isso indago: que semelhança isto tem com o que acontece nos EUA? Diria que, no caso deste bairro, qualquer semelhança é mera coincidência.
A redenção cobrará seu preço às autoridades chorosas: esta poderia ser a efetiva requalificação do bairro, com a extirpação do crime ostensivo no local, ruas transitáveis, iluminação pública, transporte coletivo digno, parques e áreas de lazer e saneamento. Enfim, com acesso a uma cidade digna, organizada pelo planejamento.
Que o luto pelos infantes nos traga força e compromisso nesta luta.
Nota: Esta seria a manifestação que eu gostaria de ter feito, da Tribuna da Casa Parlamentar da Cidade – da Câmara de Vereadores. No entanto, em nome do luto, o acesso à Tribuna da Casa foi fechado por “determinação superior”, e os parlamentares que lá estavam, surpreendidos, não puderam se manifestar, como de Direito.
Sergius,
a Tribuna, no dia, para minha homenagem àqueles que partiram, e reivindicar melhores condições para as escolas e profissionais do ensino fundamental foi do que senti falta, profundamente.
Como complemento ao meu comentário, acredito que esse deveria ser o momento em que a Tribuna Parlamentar da Cidade deveria estar mais alerta, em vigília solene e em discussão incessante sobre o acontecido, demonstrando sua responsabilidade em relação ao (des)governo da cidade e à falta total de soluções.
A simples isenção, sob o pretexto de luto, para mim, é a demonstração evidente do desrespeito dos parlamentares ao pequeno percentual de crianças que ainda tentam arrancar um pouco de estudo dos maus colégios que temos, mesmo sob ameaça de balas perdidas e achadas.
Devemos o nosso maior pesar e vergonha ao fato de ainda sermos capazes de vilipendiar a vida de nossas crianças, a ponto de transformá-las em monstros, sem assistência, amor e respeito.
Daí por diante é fácil produzirmos um facínora, condená-lo e, por fim, executá-lo exemplarmente em praça pública.
Como se não fosse tal procedimento, uma retrógrada e hedionda herança medieval.
Quando será que começaremos a tratar nossos semelhantes como seres humanos, desde suas gestações, ao invés de insistirmos em gerar animais racionais adultos dignos de penas e penalidades?
Continuamos a menosprezar o ensino e a necessidade urgente de reformulação de nossa Constituição, verdadeiras CAUSAS de nossa desorientação e desgraça social, deliberadamente encobertas pelo burburinho de EFEITOS ladinos e criminosos.
Sérgio Werneck de Figueiredo
Petrópolis RJ