“Tudo menos náutica”: avaliação do projeto na Marina da Glória
Ontem, dia 24, na exposição do projeto do Grupo X para ocupação da área da Marina da Glória, no Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB – RJ), destaco a posição unânime dos usuários náuticos da Marina no sentido de que o projeto era tudo, menos um projeto náutico – um projeto de marina.
Essa é a posição da Associação de Usuários da Marina (Assuma), representando mais de trezentas pessoas, e de vários usuários que se posicionaram, firmemente, contrários ao projeto exposto.
Demostrou-se que o folheto amplamente distribuído pela EBX, inclusive no Parque do Flamengo, traz uma “propaganda enganosa”, pois diz que aumenta as vagas molhadas em seis novos piers para além da área contratual. Ou seja, numa área onde a contratada REX não tem qualquer ingerência, atualmente.
A empresa reconheceu que, o que estava ali retratado, era uma intenção (projeto de papel) e que dependia do andamento e da deferência de seu pedido de nova área junto à Superintendência de Patrimônio da União (SPU) para tal.
Será que a SPU, a essa altura, irá dar parte da área pública do maior Parque público carioca à ocupação privada, para exploração econômica de um grupo que hoje em dia sofre pesados questionamentos sobre sua capacidade de realizar os projetos que vende?
A Capitania dos Portos, segundo foi afirmado, desconhece qualquer pedido. E, por conta de um futuro e eventual aumento de vagas molhadas para grandes barcos, subtraiu-se o número de vagas secas (mais de 50%), que só serviriam a pequenos barcos! Com isso, a Marina pública, continuando a existir, só serviria para os grandes. Nem mesmo para as Olimpíadas seria adequado!
Questionado sobre este “programa” de ocupação da Marina, voltado especialmente para o retorno econômico do contratado com lojas, espaços para eventos e festas, ampliação de estacionamentos, enfim, um pólo comercial e tão improprio para a prática náutica popular, o autor do projeto, respondeu: “É o contratante [EBX] é quem diz qual é o programa. Eu sou o contratado para realizá-lo”.
Ficou claro também que, para realizar o projeto de revitalização da Marina da Glória, nenhum usuário, nem a Assuma, foram contactados. A empresa defende-se dizendo que está fazendo isso agora.
Enquanto isto acontece, tocam-se os vários procedimentos de aprovação, pois já está em trâmite a apreciação do projeto executivo no âmbito do IPHAN e do seu Conselho Consultivo. Também tramitam processos de aprovação no INEA e na Prefeitura (Conselho de Patrimônio), além do mencionado no SPU.
Acreditam, infelizmente, na frase de um célebre jornalista: “Os cães ladram, mas a caravana passa”.
Dizem querer discutir com a sociedade o projeto e até ajustá-los em detalhes, mas não abrem mão de “tocarem o seu barco”, rapidamente, para que, antes de um possível cataclismo empresarial, consigam este porto seguro privado em área pública.
Será? Acho que desta vez não vai dar.
Confiram os dados do projeto.
Notas:
Para a construção de mais de 25 mil metros quadrados de área nova será demolido o prédio existente, de 1600 metros quadrados, de autoria do arquiteto modernista Amaro Machado. Muito pouca consideração com a obra de colegas! E é 16 vezes maior em área construída!
A altura projetada de 13,5 é o dobro da construção do prédio de Amaro Machado, que é de 6,5 m. O toldo lá existente é irregular (de 15 metros de altura), já declarado em acordão judicial federal. Só não retiram porque não houve a execução provisória da sentença. O o processo judicial foi roubando no caminhão rumo à Brasília !
Anotei, a título de exemplificação, a seguinte área coberta, declarada, de comércio no novo empreendimento, com a demolição do projeto do arquiteto Amaro Machado, de :
1617 m2 de bares e lojas;
1840 m2 de foyer;
2696 m2 de multiplo uso ( que será?);
2040 m2 de lojas;
3972 m2 de área de eventos;
etc…
Obrigada pelo comentário de todos. São eles, os comentários, que estão a me dizer, sempre, que é preciso continuar tentando informar, sempre. A informação, e o conhecimento, é a matéria prima indispensável para qualquer tentativa de melhora. Se não é suficiente, ao menos é, sem dúvida, necessária. Abs. SR
Época essa do Brasil em que homens como Eike mandam e desmandam. Este, entre tantos, é uma pessoa com claros distúrbios mentais, demonstrados em programa de auditório tv quando se propôs a comprar a calcinha de sua então esposa Luma, que rolava aí pelo mundo. e, sobretudo, quando apresenta sua ambição sem eiras nem beiras de ser o mais rico do mundo. Bem, colocado o perfil de quem estamos tratando, não deveríamos levá-lo a sério se não tivesse como amigos da hora o ex-presidente Lula, que abriu as portas do cofre do povo, digo o BNDES, para esta infeliz figura, como também Eduardo Paes, cuja única preocupação, nem um pouco mais saudável, é a de se manter no poder às custas de eventos passageiros, cuja benesses que receberemos não passarão de sobras, embora sejamos os provedores dessa cidade. O que querem fazer com o Parque do Flamengo é um crime, mas menos criminosos serão aqueles cariocas que darão suas licenças para a privatização do que é da população. Dar a Eike o nosso Parque não tem nome. Os agentes públicos que facilitarem essa transação devem ser trazidos a público, porque nas mãos deles estarão a coragem de dizer sim ao que é correto, ético e que a lei dita. Vamos aguardar, sobretudo, a posição do IPHAN.
Prezada Sonia Rabelo. Diante de questões polêmicas que não dão IBOPE, você se preocupa em esclarecer, trazer à tona fatos que permitam à população recuperar o entendimento de como é administrada a cidade do Rio de Janeiro.
Seu esforço é de vigilância e denúncia para o contínuo usurpar do solo e equipamentos públicos, incessantemente leiloados para uso privado, ou de indagação sobre o descaso e escárnio diante de situações emergenciais decorrentes de grandes catástrofes ou simplesmente negligenciadas no dia-a-dia.
Com seu trabalho, em sintonia fina com milhares de [e]leitores, será possível inverter o foco — de vigilantes do óbvio — para partícipes do mundo real: com políticos e administradores que não estão a espera de um show a cada minuto; não aguardam a contínua confraternização com milhares de turistas classe A6; elaboram com a população um trabalho silencioso, até mesmo invisível.
Distante de palcos e holofotes, sem investimentos publicitários, vamos conquistar condições dignas para que TODOS os que aqui vivem — convivam e convindem MUITOS — a usufruir uma Cidade Maravilhosa.
Prezada Sonia,
Se queremos uma Marina para servir às Olimpíadas, que sejam escutados os Grael. Conheço-os pessoalmente, e são pessoas sérias, que merecem nossa confiança.
Está parecendo que o Grupo EBX está querendo fazer da Marina um anexo ao Hotel Glória, de sua propriedade, exclusivamente para fins comerciais
Não suporto mais ver meu dinheiro (impostos) ser jogado fora em projetos políticos/mal pensados. Vide Velódromo, Reformas do Maracanã(02), etc….
Estive na apresentação do PowerPoint na Câmara dos Vereadores. Achei vergonhosa a posição de alguns que se pronunciaram a favor, principalmente uma que disse, “horrorizada”, ter pisado na lama ao entrar e sair de um barco onde havia uma festinha… e também daquele que diz ser representante dos moradores da Glória, mas que representa apenas os associados da Ama-Glória, portanto, não reflete a opinião de grande parte dos moradores (aliás, muitos nem sabem o está acontecendo…). Estava estampado na cara dele que havia sido comprado, não precisava ter atacado as pessoas que estavam lá (eu, inclusive) que gritaram que não haviam sido comunicadas. A conclusão a que cheguei: ali é área não edificável, portanto não deveria sequer haver um projeto e sequer deveria ser encaminhado para o IPHAN e os outros órgãos. E também fiquei com certa dúvida quanto a uma suposta “limpeza” da emissão do esgoto que desemboca na região da marina. O emissário iria jogar os detritos (para falar em linguagem polida…) na Praia do Flamengo, na de Botafogo, ou iria jogá-los na entrada da Baía de Guanabara????
Parabéns Sonia pelo seu incansável monitoramento do poder “público” no Rio de Janeiro.
Concordo com tudo que você vem exaustivamente denunciando sobre os desmandos aos quais estamos entregues.
Tenho apoiado outras iniciativas como as do deputado estadual Marcelo Freixo, as do deputado estadual Jean Wyllys, as plataformas da equipe do “Meu Rio”, e outras.
Precisamos construir uma nova cultura política e contaminar os cidadãos para participarem das políticas públicas e com isso tentar escolher melhor nossos representantes.
Tento fazer o que está ao meu alcance seja por meio das redes sociais, de divulgação no meu Blog, nos grupos de amigos e nos grupos profissionais.
Mais uma vez, parabéns pelo seu trabalho e por me manter bem informada e com mais recursos para minha pequena, mas constante mobilização.
Maria Angela Barreto.
Um absurdo o que estão fazendo. Esses projetos de ocupação atendem à interesses que não são os da população carioca.
Gostaria que houvesse a mesma resistência quando descaracterizaram totalmente o Estádio de Remo da Lagoa, que agora virou Lagoon.